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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Depois de 38 anos, Londres pede desculpa às vítimas do 'Bloody Sunday'

Em frente a um telão, milhares de pessoas festejaram ontem o que parecia um gol em Londonderry, na Irlanda do Norte. A comemoração, porém, nada tinha a ver com a Copa da África do Sul: a transmissão, direto do Parlamento, em Londres, mostrou o premier da Grã-Bretanha, David Cameron, pedindo perdão em nome do governo pela matança de norte-irlandeses por soldados britânicos em janeiro de 1972 – episódio que passou para a história como o “Bloody Sunday” (Domingo Sangrento) e se tornou famoso com a música Sunday Bloody Sunday, sucesso da banda irlandesa U2.
As declarações de Cameron marcaram a divulgação do esperado relatório com as conclusões de uma investigação judicial iniciada em 1998 – para muitos, enfim foi feita justiça. À época do incidente, que acabou com a morte de 14 manifestantes católicos, o governo eximiu os soldados de qualquer culpa, alegando que fora legítima defesa. Parentes e sobreviventes, porém, por anos afirmaram que as vítimas não estavam armadas e nem haviam usado da violência.
– As conclusões deste informe são absolutamente claras. Não há dúvida. Não há equívoco. Não há ambiguidades. O que aconteceu no “Bloody Sunday” foi injustificado e injustificável – declarou Cameron.
O “Bloody Sunday”, um dos episódios chave no conflito entre católicos separatistas e protestantes unionistas, impulsionou o crescimento do grupo extremista Exército Republicano Irlandês (IRA).
Em janeiro de 1998, o premier britânico Tony Blair encarregou o juiz Mark Saville da investigação, considerada a mais longa e mais cara da história britânica (o custo final ronda 200 milhões de libras, ou R$ 532 milhões). As famílias das vítimas e os soldados envolvidos tiveram acesso mais cedo ao informe de 5 mil páginas, que examina os acontecimentos de 30 de janeiro de 1972 durante uma marcha a favor dos direitos civis em Londonderry. Mais cedo, cerca de 60 familiares de vítimas desfilaram em silêncio, exibindo fotos em preto e branco de seus parentes.
Com a divulgação do relatório, alguns soldados – hoje todos na reserva – podem ir a julgamento.

O DOMINGO SANGRENTO
- Em 30 de janeiro de 1972, cerca de cem soldados britânicos abriram fogo contra manifestantes católicos em Londonderry, maior cidade católica da Irlanda do Norte, matando 14 pessoas e ferindo dezenas.
- O governo conservador do premier britânico Edward Heath (1970-1974) afirmou que todos os mortos pertenciam ao Exército Republicano Irlandês (IRA) e que atiraram contra os soldados. Onze semanas depois do massacre, uma investigação inocentou o exército do país.
- Segundo parentes e sobreviventes, porém, os depoimentos foram alterados, e as provas, destruídas. Alegam que o ataque foi planejado pelo governo britânico para “assustar” os manifestantes, que, nos seis meses anteriores, mantinham fechada parte da cidade.
- Pressionado pelas famílias das vítimas, o então primeiro-ministro, Tony Blair, ordenou em 1998 um novo inquérito, cujas conclusões foram divulgadas ontem.
O CONFLITO
- Questão política – Os britânicos dominam a ilha desde o século 14. Anexaram a Irlanda em 1800. A maior parte do território se separou na década de 1920, formando a República da Irlanda. A Irlanda do Norte integrou a Grã-Bretanha.
- Questão religiosa – Os católicos queriam o fim do domínio britânico e a união com a República da Irlanda. Os protestantes, maioria da população, queriam manter o sistema atual.
- Terrorismo – O IRA tentava, pela via do terrorismo, separar a Irlanda do Norte (de maioria protestante) da Grã-Bretanha. O grupo católico é responsabilizado por quase metade das 3,6 mil mortes ocorridas a partir de 1972, incluindo as de 640 civis. Em 2001, o IRA anunciou que começaria a depor as armas e se desmobilizou.
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