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sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Clockwork Orange

Após o final da turnê Lovetown e daquele discurso de Bono dizendo que o U2 teria que "dar um tempo e sonhar tudo novamente", Bono e Edge se lançaram imediatamente em outra tarefa, compondo música para a adaptação para o teatro de 'A Clockwork Orange', representada pela Royal Shakespeare Company RSC, em Londres. Eles já tinham recebido o convite na primavera de 1989.
Paul Barrett, o produtor que estava trabalhando com o U2 na época, foi o responsável pela mixagens de algumas faixas, e Adam Clayton tocou baixo em uma parte do material, à pedido de Bono e Edge.

BONO: O Barbican Centre, sede da RSC, devia ser um centro para ópera e o teatro erudito britânico. O Edge e eu pisávamos naqueles palcos consagrados, escrevendo música para a história clássica de Anthony Burgess, sobre um futuro desiludido. Para nós o som tinha uma facilidade com a qual podíamos brincar e moldar a nossa maneira. Pensando naquele tempo, é obvio que essa experiência inicial estava preparando o terreno para o Achtung Baby.

EDGE: Como pesquisa para 'Clockwork Orange', eu ouvia muita música industrial, sons barulhentos e abrasivos, construídos por máquinas de ritmo e distorções sonoras estridentes. Eu já começava a gostar muito daquelas gravações ásperas de bandas como os KMFDM, The Young Gods e Einsturzende Neubauten.

BONO: Trabalhamos com algum material nos estúdios da STS, em Dublin. Era um espaço muito pequeno sobre uma loja de discos de música tradicional irlandesa, cheio de tapetes empoeirados e de gente inteligente. As demos de muitas de nossas músicas foram feitas lá.

EDGE: Íamos para lá, entrávamos em um processo criativo e ensaiávamos idéias diferentes. A 5º sinfonia de Beethoven é uma parte determinante da história de 'Clockwork Orange', por isso, a cortamos em pedaços e a reutilizamos. O Bono sempre foi mais do que o letrista do U2. Ele tem idéias musicais, linhas melódicas e conceitos fantásticos. Muitas vezes, nos deparamos com coisas inadequadas para a peça, podia ser o riff de uma guitarra ou uns acordes no teclado, e as colocávamos de lado para o U2.

BONO: A melodia foi sempre uma parte do processo criativo na concepção de uma música, na qual eu não tinha de pensar. A orquestração, as partes do violoncelo e das cordas, para mim é muito fácil, e também dá trabalho possuir a clareza de pensamento para encontrar a palavra que completa a letra.
No fim, surgiram aspectos fantásticos da produção e outros nem tanto. O cenário era incrível. Phil Daniels, o protagonista, era excelente. Mas havia na RSC muita burocracia que dificultava o trabalho e o Anthony Burgess acabou se revelando um estupor muito excêntrico que também compunha música e não gostava nada da nossa participação. Ninguém queria dizer ao grande homem que ele era melhor escritor do que músico.

PAUL: O Burgess era um velho doido. Era músico e compositor, além de romancista. No intervalo fui ao bar e lá estava ele conversando com uns seis jornalistas, dizendo a eles que odiava a música. E aquela era a noite de estréia da sua peça.

BONO: Gostamos da experiência. Temos que voltar ao teatro musical. Ainda é uma vasta área dirigida por gente muito tapada. Gostaria muito de ter uma palavra para dizer.

A única canção trabalhada para a peça que foi lançada oficialmente foi 'Alex Descends Into Hell For A Bottle Of Milk/Korova 1', que foi mixada por Ingmar Kiang. É o Lado B do single do U2 'The Fly'.

Bono e Edge trabalharam diversas faixas nos estúdios da Island para a peça do diretor Ron Daniels. Foram diversos dias seguidos por causa do atraso para a entrega do material, com muitas idéias, centenas de edições nas fitas e muita energia dos dois integrantes do U2.

ESSA É PARA OS FÃS MAIS ASSÍDUOS: Bono nestas sessões de estúdio, realizou uma maravilhosa gravação em um take apenas, de uma versão de 'Fascist Groove Thang', do Heaven 17.
Esta versão nunca viu a luz do dia e permanece nos arquivos, bem guardada.

Curiosidade: Ron Daniels nasceu e foi educado aqui no Brasil, no Rio de Janeiro. Ele foi o membro fundador do Teatro Oficina, em São Paulo.
Em 1964 foi morar na Inglaterra e iniciou sua carreira de teatro inglês. Em 1977, foi nomeado diretor artístico do teatro The Other Place Theatre da Royal Shakespeare Company. Ele continua sendo um dos diretores honorários da Royal Shakespeare Company.
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