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sexta-feira, 2 de março de 2012

A ousadia ou fraqueza de um suicídio........

Bono colidiu a primeira vez com Paula Yates quando ela tinha 17 anos. Yates era uma boneca extravagante na época, andando com Bob Geldof na fase áurea do Boomtown Rats, parecendo uma “rock moll” (groupie) meio de baixo nível.
Bono era o oposto dela. “Eu a evitei por anos”, ele fala, “porque eu pensava ‘Ahh, de onde ela vem?’. E então anos depois, eu realmente descobri essa coisa de que as pessoas que sofreram muito em suas vidas não estão em pubs falando sobre isso. Pessoas que não sofreram – mas estão na fila por mais! (risos) – que você encontra em pubs falando sobre isso”.
Yates era selvagem na forma mais estranha. Esperta e briguenta, ela gastou sua vida inteira tentando se passar por uma loira volúvel. Mas havia substância ali, e como a vida de Paula se movia através de sua própria marca de celebridade, apresentando ‘The Tube’ e ‘The Big Breakfast’ na televisão britânica, durante o qual ela se apaixonou por Michael Hutchence do INXS, seu caminho se cruzava com o de Bono com frequência.

Tanto o término de seu casamento quanto a briga pela custódia de sua filha foram colocados para fora do brilho total dos holofotes dos tablóides. Então seu romance com o glamouroso e imperfeito frontman do INXS era, uma história que por si só assumia uma feição ainda mais trágica.
Excesso era o que definia qualidade em suas vidas. Bebida e drogas era o lugar a que eles se davam o luxo, muitas vezes custando sua estabilidade e confiabilidade. Que traumas e inseguranças podiam ter atormentado Hutchence e seu par, nós podemos apenas especular.
Ainda continua sendo um choque, mesmo aqueles que eram próximos a ele, quando Hutchence foi encontrado morto em seu quarto no Hotel Ritz Carlton em Double Bay, Sydney, em sua terra natal, Austrália. Paula agarrou-se desesperadamente na fé – a qual ela encontrou conforto – que ele tinha morrido acidentalmente, estrangulado e asfixiado no decorrer de algum tipo de experiência auto-erótica. Mas Bono faz uma leitura diferente disso.
Ele tinha conversado com Hutchence anteriormente sobre suicídio, e eles tinham concordado como isso era patético. Agora Bono sentia raiva diante da probabilidade de Hutchence ter escolhido o que poderia ser visto como a saída mais fácil. No auge da sua raiva, não muito depois de ele ter ouvido a notícia, ele escreveu ‘Stuck In a Moment You Can’t Get Out Of’, uma música que ele descreve como sendo um bate-boca entre amigos. “O maior respeito que eu poderia dedicar a ele”, Bono reflete, “não era escrevendo alguma música estúpida, sentimental e piegas”. Ao invés disso ele escreveu o que ele descreve como um duro, sórdido, pequeno número que, na conta de Bono, golpeia na cabeça seu velho amigo perdido por ter tido a ousadia – ou a fraqueza – para fazer isso a si mesmo. “Como alguém dopado e você está tentando acordá-lo”, ele diz, “porque os policiais estão vindo e eles estão dormindo ao volante e você está para tirar eles do carro porque vão bater”. Mas a música não chega a ter que explicar todos os caminhos, soando em alguns momentos mais como um apelo por escrito do ponto de vista de Paula Yates, como ela tenta lutar com a perda de seu amante dos amantes.
O verso de abertura é claramente a voz de Bono e oferece uma oportunidade para uma declaração de intenções sobre o álbum 'All That You Can’t Leave Behind, que define a crucial diferença entre o mesmo e seu predecessor, 'Pop'. 
Na ponte, o espectro da reação de Yates diante da morte de Hutchence – e, finalmente, de seu próprio falecimento - paira. “I was unconscious, half asleep/the water is warm till you discover how deep...”, e corre, “I wasn’t jumping...for me it was a fall/ It’s a long way down to nothing at all”.
Seja de quem for a voz implícita, se Bono ou Edge – que recebe o crédito de co-autor – invocou linhas particulares entre eles. Eles fizeram justiça a Hutchence e Paula ao criar uma das melhores canções pop do U2. Essa é uma faixa de grandeza épica que encontra um pouco de sua persuasiva força no uso da linguagem familiar do pop – o descartável beatle - com ‘my on my’ na conclusão do segundo verso, e o fácil ‘baby’ no primeiro. Mas todos sabiam sobre o que era a música e havia um sentimento de que era preciso um final gospel para dar a sensação de resolução – de aceitação e alívio. Edge veio com a letra e bingo! “É algo que nós sempre quisemos fazer”, Daniel Lanois relembra, “ter uma espécie de canto de coral. Nós tentamos algumas variações nela e terminamos com o que tínhamos. É o tipo de coisa que você pode facilmente levar para um coro - você pode imaginar cantores que ficariam felizes em cantar em um disco do U2 – mas nós não queríamos fazer aquilo. Bono diz – ‘não, será apenas Edge, Eno e Daniel Lanois. Nós somos bons cantores mas, você sabe, há cantores melhores no mundo! Mas se você quer que soe como um álbum do U2, então você usa o time”.
Dessa forma, ela continua a ser uma música que todos podem cantar, em sua própria companhia. E assim é.

Agradecimento: Rosa - Achtung Zoo
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