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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Uma emocionante entrevista de Bono para sua filha Jordan Hewson, na série 'Talk To Me' do Huffington Post


Jordan, aos risos: "Então, quem é seu favorito?"

Bono, também aos risos: "Definitivamente, você é a minha favorita!"

A criação de um futuro melhor começa com um momento de conversação, um momento de conexão entre as gerações, experiências compartilhadas, lições aprendidas.
Bono sentou-se com sua filha Jordan Hewson, para a série de entrevistas 'Talk To Me' do Huffington Post, e fez uma retrospectiva de sua vida à partir do momento em que ele saiu de casa e encontrou a família que ele sempre quis.

Jordan: Temos mentes muito diferentes. Sua mãe morreu quando você tinha 14 anos, e você se juntou ao U2 quando tinha 16 anos. Então a banda foi como uma primeira família para você.

Bono: Eu tenho estado na estrada desde que minha mãe morreu, então provavelmente desde os 14 anos, e eu estava vivendo sozinho com dois homens. Três homens irlandeses agressivos vivendo em uma pequena casa no Lado Norte de Dublin. Não havia muita harmonia, eu tenho certeza que era muito rude, e a maioria dos problemas em casa é que já não era mais um lar para mim, e eu acho que o U2 veio e se tornou uma família substituta. Eu vou ser honesto com você: eu só entendi a sensação de lar quando você entrou na minha vida, e ainda assim levou um tempo para eu voltar para casa.


Jordan: Foi um grande choque ter filhos, principalmente quando você está longe, viajando com uma grande banda de rock nos anos 80.

Bono: Eu não era o tipo de pessoa preparado para ter uma família, se estabelecer, mas você provavelmente salvou a minha vida. Eu me lembro de você nascer, eu me lembro em detalhes. Eu estava no estúdio de gravação e sua mãe veio me buscar. Ela empacotou um frasco de uísque, um livro que eu estava lendo, alguns jornais. Nós estávamos ali juntos, eu estava gravando. Até o último minuto eu estava, provavelmente, em negação. Um homem experimentando um grande medo, o nascimento de uma criança, porque não há nada que se possa fazer. Normalmente ali é alguém que você ama, gritando, ou chateada que você acabou de dar uma chacoalhada nela. Eu me lembro de gravar o seu batimento cardíaco, eu tinha um gravador portátil e estava gravando seu batimento, e eu iria gravar uma música usando o ritmo do seu batimento cardíaco, e notei que era um batimento um pouco lento, então chamei uma enfermeira e disse: 'olha, as batidas do coração dela ficaram mais lentos', e ela 'não, não se preocupe, é normal', e eu disse 'não, não, está lento', e então eu liguei para o médico, e ele teve aquela reação como a minha. E você foi trazida à existência. Você era tão pequena que eles sugeriram que você deveria ficar perto do coração de sua mãe ou do meu, e você era tão vulnerável que dormiu no meu peito por duas semanas. Aquela coisinha ali no meu peito. Você nasceu no dia do meu aniversário, o maior presente que eu poderia ganhar.

Jordan: Gêmeos cósmicos

Bono: Isso, gêmeos cósmicos. Eu acho que é essa coisa, um nasceu para o outro.

Jordan: Eu não posso acreditar que você deixou minha mãe dirigir grávida até o hospital.

Bono: Eu não deixei. Foi sua mãe que não me deixou dirigir até o hospital. Ela não confiou que eu dirigisse naquela noite.

Jordan: Eu nasci, você cresceu e evoluiu. O que você aprendeu com esta experiência?

Bono: Dizem que estar em uma banda é uma extensão da infância, mas eu realmente não concordo. Eu acho que aconteceu realmente para se ter uma fricção entre iguais, algo maduro. Mas toda aquela coisa de gangues, tolices juvenis, permanece com você. Então eu não tenho certeza se houve uma evolução e eu ainda estou trabalhando nisso, e sua mãe foi incrível, e eu apenas seguia ela em tudo. Meu pai, quando contei à ele que sua mãe estava grávida, ele apenas ficou dando risada, ele dava gargalhadas. Quando perguntei o que era aquilo ele disse: vingança. Você e sua irmã Eve eram crianças incríveis, e então eu aprendi a amar, na verdade com você.



Jordan: O que você diria que é sua maior realização?

Bono: Eu acho que ser uma celebridade é ridículo, porque vai contra os valores de Deus. Então, alguém como eu, uma estrela de cinema, um estrela do esporte, são muito bem pagos, em excesso, em relação à uma enfermeira, um bombeiro, que supostamente são pessoas normais, mas a coisa é vista de maneira errada, pois eles são os verdadeiros heróis, e não você. Bjork, uma amiga e inspiração, costuma dizer: 'você sabe, na Islândia, um músico é como um encanador, um carpinteiro'.  Não devemos nos enxergar como qualquer outra coisa. A celebridade tem que ter algo a oferecer, fazer brilhar uma luz e colocar um holofote sobre as pessoas cujas vozes não são ouvidas. Eu acho que nós temos que fazer um acordo com nós mesmos, com nossa família, com Deus, sobre essa desigualdade. Então eu acho que apenas vivo uma vida que é a correta para nossa família, e tentando, junto com você, particularmente, alguma redistribuição dessa riqueza, mas a coisa mais importante que posso fazer é tentar lutar contra a pobreza, e sua situação estrutural não é tão simples. Por isso que estou na ONE Campaign. Eu acho que a coisa que mais me ofende é o desperdício do potencial humano. Se eu tivesse uma definição do amor, seria perceber e fazer algo com o potencial das pessoas que estão ao seu redor.
Eu era um jogador de xadrez na adolescência, e eu via alguns maltrapilhos dormindo em um banco de parque, e eu pensava: eu acho que esta pessoa poderia ser vencedora jogando xadrez. É o que se resume para mim. Perceber o potencial um no outro.
Se você olhar para uma doença como a Malária, e você pensar em Mozart, Steve Jobs, Bill e Melinda Gates e milhões de brilhantes pessoas, não sabemos quantos deles poderiam ter sido perdidos por causa de uma pequena vacina, de não ter uma medicação. Isso é provavelmente o coração de quem eu sou.

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