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sábado, 24 de abril de 2010

The Edge citado no texto 'Jimi Hendrix, um mestre sem discípulos'

CRISTIANO BASTOS, especial para O Estado
Califórnia, Estados Unidos, 18 de junho de 1967. Clímax do verão do amor. No backstage do Monterey Pop Festival, Jimi Hendrix e Pete Townshend tiram cara ou coroa para saber qual banda sobe ao palco primeiro: The Who ou Experience? O Who ganha e Hendrix sente a boca amargar. Afinal, o que qualquer guitarrista do mundo poderia fazer para impressionar o público depois de um Pete Townshend no auge de sua forma? Townshend termina o show quebrando tudo, literalmente, amplificadores, bateria, tudo. E Hendrix, por mais que seus solos já tivessem força própria, sentiu que precisava de mais. Ao tocar Wild Thing, tirou um isqueiro do bolso, jogou o fluído sobre a guitarra, ateou-lhe fogo e fez lenda com sua Fender Stratocaster agonizando em chamas.

Quarenta anos após a morte de James Marshall Hendrix, em 1970 (foi encontrado na cama do quarto de um hotel onde estava com uma namorada alemã, Monika Dannemann, desacordado após ter tomado nove pílulas de Vesperax, e asfixiando-se em seu próprio vômito), o guitarrista é recolocado em cena por força de lançamentos que, ao contrário de efemérides recentes como a dos Beatles, vem com combustível inflamável, bem ao gosto de Jimi Hendrix. Em julho, a gravadora Sony vai reeditar o catálogo com quatro álbuns oficiais de Hendrix remasterizados: Are You Experienced?, Axis: Bold As Love, Cry of Love (também conhecido como The First Rays of New Rising Sun, que vem com outakes) e Eletric Ladyland. Os discos virão com um documentário contando a história das gravações dos álbuns, com direção de Bob Smeaton, o mesmo que fez Anthology, dos Beatles. E desde março, começou nos EUA a Experience Hendrix Tour 2010, com guitarristas como Joe Satriani, Kenny Wayne Shepard e o baixista Billy Cox, ex-parceiro de Hendrix.

Apesar de ter guitarristas de mãos cheias celebrando vida longa a Hendrix, os solos de guitarra não são mais os mesmos. As décadas que separam o guitarrista de Seattle de bandas como Vampire Weekend e Coldplay fazem perguntar, afinal, por onde andam as viagens em notas pelas quais Hendrix tanto batalhou? As bandas se cansaram dos solos? Ou os jovens não querem mais ouvi-los?
A resposta mais óbvia seria a de que Hendrix, mesmo enterrado há quatro décadas, teria chegado a algum lugar do futuro com seu instrumento que até hoje guitarristas não conseguiram atingir. "Ainda sinto ‘emanações espirituais’ de Hendrix toda vez que tocamos com o grupo Hendrix Experience Tour", diz ao Estado Billy Cox, baixista que tocou com Hendrix na formação Band of Gypsys.

Outra resposta à crise dos solos pode estar na origem dos novos guitarristas. Jack White, ícone dos anos 2000 com seu White Stripes, é uma referência atual sem nunca ter colocado fogo em seu instrumento. Apesar de ter técnica de sobra e atacar a guitarra com ferocidade, não dá a mínima a viagens hendrixianas. Hendrix, por sua vez, bebeu em um lago que só fica mais raso a cada geração: o blues, gênero que fez existirem Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page. "Nosso pai tinha uma imensa coleção de álbuns de artistas de blues. Jimi ficava ouvindo e estudando dia e noite. Em cada uma das audições, ele alimentava sua inspiração", conta Janie Hendrix, irmã de Jimi. Ela lembra que, nos tempos de garoto, o irmão queria mesmo era se formar em publicidade e propaganda. "Ele adorava desenhar enquanto escutava os velhos bluesmen na vitrola."

Jack Endino, produtor de grupos como Nirvana e Mudhoney, deixa as coisas mais difíceis. Hendrix, para ele, criou um novo padrão, um caminho sem volta para quem quiser tocar ou gravar o instrumento. "Jimi realizou façanhas em estúdio que jamais haviam sido alcançadas."

A visão daquilo que é solo de guitarra transforma-se com os anos. Se a partir da metade dos 60 até o fim dos 70 significava altas e infinitas viagens, influenciadas pela aura lisérgica da época, nos 80 se diluiu em ‘clima’, criado pelas mãos leves e sábias de The Edge, do U2, que inventou uma nova função para a guitarra, à base de timbres, efeitos e acordes abertos, sem tirá-la da linha de frente.

Os anos 90 foram marcados pelo rock do não-solo feito pelo grunge de Kurt Cobain. E nos anos 2000, com a revolução da internet, o que menos preocupa os garotos é a performance acrobática de seus guitarristas. "Aqui no Reino Unido, as guitarras perderam o lugar para os sintetizadores dos anos 80. É parte do revival que está rolando agora", fala o baterista da banda inglesa Shadow Riots, Gaylord Knott, de Manchester.


A guitarra vive dias de ressaca.............
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