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sexta-feira, 14 de maio de 2010

The Edge fala sobre 'All That You Can't Leave Behind' - Arquivo '50 anos de Bono'

Com um título bastante apropriado, All That You Can't Leave Behind foi o trabalho do U2 no ano de 2000. O álbum com 11 músicas trouxe de volta o passado glorioso da banda. Impulsionado pela guitarra de Edge, o álbum aumentou a intensidade do U2 e diminuiu os efeitos. E, assim como disse Edge, isso mudou com o tempo.
Releia agora uma entrevista de Edge na época do lançamento do álbum, em 2000:


All That You Can't Leave Behind parece um retorno às origens. O que inspirou esta mudança?

Nós sentimos como se o tempo tivesse voltado ao passado, então, voltamos nossa atenção para o que podemos fazer com uma banda que é única. De alguma maneira, nós sempre estamos tentando abstrair o som da banda, seja com influências da música techno e dance, hip-hop, música ambiente ou o que quer que seja. E, com isso, nós apenas tentamos produzir um som verdadeiramente trabalhado e sentimental. Eu acho que é a vitalidade deste trabalho que nós admiramos - o sentido da vida, o sentido de quatro personalidades distintas trabalhando juntas. Foi muito bom ver o resultado.

Vocês acham que estão improvisando demais nas músicas?

Ás vezes certas músicas tem que ser menos requintadas e menos produzidas. Na realidade, as gravações em estúdio resumiam-se em quatro pessoas tocando sem parar num ambiente minúsculo, melhorando o desempenho e os arranjos, sem tentar gerar pontos de partida e padrões sonoros incomuns para produzir sons diferentes. Existem várias técnicas especiais de produção envolvidas, mas que são sempre construídas numa base bastante sólida de um ótimo som, tocado por uma grande banda, eu espero.

Foi um alívio voltar a tocar desta forma?


De certo modo, foi mais uma pressão, pois não havia mais lugar para se esconder. Perguntas do tipo, "Qual foi a melhor música que você já escreveu? O melhor som de guitarra que você já tirou? Esta foi sua melhor apresentação?" Todas estas pressões estavam à nossa frente. O final da gravação foi muito gratificante, pois todo o trabalho havia sido feito. Nós estávamos tentando criar um mix. Se você utiliza as técnicas experimentais de estúdio, geralmente a idéia é utilizar somente os processos de gravação, você necessariamente não produz um som excêntrico. Neste caso, nós tínhamos certeza de que nada seria gravado se não estivesse naquele padrão.
Então, num curto período de tempo, nós nos encontrávamos sob forte pressão - nossa própria pressão para lançar algo que realmente nos orgulhasse. Mas, eu acho que de todas as gravações, esta foi concluída sem pânico, coisa que era normal para nós em todo final de gravação.

"Beautiful Day" é menos hype-y do que outros singles do U2. Esta música foi realmente tirada do álbum ?

Sim, o primeiro single é sempre utilizado como um modo de julgar o álbum inteiro, ou, de certo modo, as pessoas vêem isso como uma introdução ou explicação do que será o álbum. Para nós, é sempre impossível encontrar uma música que possa ser eficaz. Eu acho que "Beautiful Day" é uma música que conseguiu emplacar esse álbum. Talvez, nos últimos dois álbuns, nós não tivemos uma música tão eficaz como esta.

Fale sobre a evolução de "Beautiful Day".

Aquela que deveria ter um verdadeiro estilo punk rock era a música "Always" [que está no lado B do single "Beautiful Day"]. Nós tínhamos uma música que nos empolgava, mas não era bem a que nós queríamos, então, Bono apareceu com a letra da "Beautiful Day". O ponto principal foi a idéia minha e de Danny [produtor de Daniel Lanois] de colocar backing vocals, e isso fez com que a música tomasse outro rumo. Algumas das faixas da gravação acabaram de ser feitas e já foram escolhidas, mas "Beautiful Day" foi escrita em estapas.

Particularmente, qual música você tem orgulho de ter feito?

Bem, isso é difícil responder. Nesse momento, "Kite" é uma música que eu realmente me orgulho dela. É uma música lenta, o que significa que ela não será um single. Eu acho que nós quatro estamos na melhor fase: Bono, cantando com o coração, melodias incríveis, letras ótimas e eu acho que a banda está tocando muito bem.

Vocês estão na segunda maior fase de popularidade. Depois de Rattle and Hum, a América ficou um pouco enjoada do U2, então, vocês retornaram com Achtung Baby. Vocês estão fazendo isso novamente?

Eu não sei. Nós estamos nos esforçando bastante para divulgar este novo trabalho, pois nós realmente acreditamos nele. Mas, ainda não se sabe se a América se interessará por este álbum em especial ou não. Eu acho que o ambiente europeu é bem diferente. A música é o reflexo do fator social e de tudo o que está acontecendo. Atualmente, na América, é o hip-hop que ainda está em alta, a síntese do metal com o hip-hop também, mas o pop é uma surpresa - está bem em alta. O Rock'n'roll tem sempre servido de contrabalanço para o pop. É a música que mostra que algo está errado, que há várias causas para a insatisfação com as coisas no geral. Visto que, pop é "Everything's fine. Everything's cool" ("Tudo está bem. Tudo está legal"). O pop tem permanecido por vários anos, mas, agora é hora da volta do rock'n'roll, e as pessoas devem estar bastante curiosas sobre o que estamos fazendo. Sendo assim, o momento do lançamento deste CD é muito bom. Na Inglaterra, nosso single alcançou a primeira posição já na primeira semana, o que surprendeu todo mundo, principalmente porque quem concorria nessa primeira posição era o dueto Robbie Williams e Kylie Minogue, que todos apostavam que seria o single da semana.

Após Rattle and Hum, o U2 foi criticado por ser hiper sério. Agora, como ironia do destino, vocês não são vistos como um grupo tão sério. A imagem glamurosa da banda e a atmosfera circense do Pop Mart influenciaram nas músicas?

Sim, eu sei que vocês perceberam isso, e, às vezes, foi muito difícil nos manter no mesmo nível. Não acho que escrevemos músicas triviais ou comerciais, mas sim, utilizamos humor e ironia para disfarçar os temas mais pesados das músicas. E, às vezes, eu acho que as pessoas não se ligaram. Elas pensam que o humor e a ironia eram tudo. Eu acho que isso ilustra que você só pode ser famoso por alguma coisa, num determinado momento. Então, este é um álbum mais aberto. Ele é o que é. As músicas são o que são. Eu acredito que você tem a impressão de que nós não damos muita importância à maneira que vocês verão isso. Ele segue uma linha traçada, por isso, eu acho que não tenha o mesmo problema de falta de identidade do nosso último álbum.
Quando é que ouviremos mais canções com você nos vocais principais?

Bem [risos], nós temos um vocalista muito bom na banda. Eu adoro cantar, mas eu não quero cantar uma música que eu sei que o Bono canta muito melhor. Isso não quer dizer que, às vezes, eu seja melhor que ele, que eu acho que não é muito difícil [risos]. De vez em quando até dá certo e eu acabo cantando. Pode até ser que aconteça novamente.

Apesar de estarmos considerando este álbum bastante "rock'n'roll", existem algumas músicas particularmente engraçadas, assim como "Stuck in a Moment" a "Wild Honey."

Nós nos permitimos escrever e gravar algumas canções que são indiscutivelmente maravilhosas, há partes melódicas nesse trabalho e, eu diria que "Wild Honey" seria o melhor exemplo disso. Ela passa um certo ar de deboche e uma qualidade que atrai. Eu acho que é porque nós estávamos com este espírito quando gravamos - principalmente quando nós fizemos as músicas mais intensas e dramáticas como "Peace on Earth" e "When I Look at the World", que são bastante fortes. Então, se você é do tipo severo e cruel, é legal que você consiga controlar isso com algo que seja agradável e melódico. "Wild Honey" é isso. "Stuck in a Moment" é uma letra bem pessoal sobre aquelas pessoas que nós sabemos que acabaram se tornando vítimas e perderam a noção de que a vida é tudo, e elas estão completamente por fora. Por isso, esse é um tema bastante pesado, com um som também pesado. Eu acho que quando estávamos trabalhando nesse álbum, nós tentamos colocar contrastes dentro do material: as letras mais profundas, aparecem com músicas bem agitadas; ou as músicas intensas vêm com uma letra divertida. Eu acredito que a msitura de sentimentos é uma das marcas registradas do que costumamos fazer.

Sabe-se que há uma outra versão da música com o Mick Jagger e a filha dele cantando de fundo.
Sim, certo dia eles apareceram no estúdio e, é claro que nós pedimos que eles nos dessem uma palhinha. Nós fizemos uma mixagem com a voz dos dois, mas o estilo da música partiu para uma outra direção e então ela não pareceu adequada.

Foi uma decisão difícil deixar o Mick na sala de espera?

Não, para ser honesto, eu não acredito que ele pretendia participar da gravação. Eu acho que seria errado de nossa parte colocá-lo na gravação, porque seu estilo de cantar não se encaixou em nosso trabalho. Isso foi uma brincadeira.

O Radiohead parece que vem seguindo os passos da carreira de vocês. Eles acabaram de lançar um álbum que vem sendo taxado como "anti-rock", e Thom Yorke disse que ele está cansado dessa coisa de rock. Qual é seu conselho para eles?

Bem, meu conselho para eles é, "Apenas faça exatamente aquilo que vocês já estão fazendo". Porque eu realmente adoro Kid A. Eu acho que há uma verdadeira integridade entre eles. Numa banda, você tem que primeiro seguir seu próprio instinto, então, torcer para que você esteja certo e que as pessoas estejam interessadas o suficiente para segui-lo, onde quer que você vá.

Por quanto tempo você acha que o U2 ainda permanecerá?

Enquanto a banda tiver a garra que nós temos e, enquanto a música estiver viva dentro de nós, nós continuaremos. Se as pessoas perderem o interesse, ou perderem o coração, ou apenas decidirem que não era realmente o que elas queriam fazer, assim será. Eu não acho que nosso destino venha a ser o abandono ou a mendicância (risos).

Você tem interesse em fazer um trabalho solo?

Não necessariamente. Quem sabe. Eu não diria nunca, mas, no momento eu estou mais preocupado com o U2 do que seguir.
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