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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

The Ground Beneath Her Feet - A Novela

O Chão Que Ela Pisa (The Ground Beneath Her Feet) é uma obra de Salman Rushdie, publicada em 1999.
A história é uma recriação moderna do mito de Orfeu e Eurídice. Decorre em Mumbai, Índia e tem como protagonistas um casal, Vina Apsara e Ormus Cama, e o fotógrafo Rai, o narrador. Amor, morte e rock-and-roll ajudam a compor um envolvente enredo. É definido por Toni Morrison como uma obra global.
O título inspirou uma canção homônima do U2, que musicou trechos do poema. 
Bono surgiu com a idéia para a música depois de ler um manuscrito do romance de Rushdie. No romance, o personagem fictício Ormus Cama escreve as letras como uma lamentação sobre sua amante, Vina Apsara.
O U2 usou essas letras quase que palavra por palavra, no entanto omitiu as seguintes linhas do poema original: "She was my ground, my favorite sound, my country road, my city street, my sky above, my only love, and the ground beneath my feet."
O próprio Rushdie estava muito satisfeito com a música, alegando que tinha "algumas das melodias mais bonitas que ele já tinha ouvido".
Em referência à canção, Rushdie disse: "Então, eu sempre soube, que seria comovente porque é uma música triste. Eu acho que soa como, espero, uma daquelas baladas do U2 para a qual a voz de Bono está maravilhosamente bem adaptada".
No livro 'O Chão Que Ela Pisa', além de ampliar seu leque de interesses da cultura islâmica para o universo pop fin de siécle, o escritor descobre o véu sobre seu processo de criação e revela não só o exilado, mas também o pensador, o amante e o cronista da modernidade. Modernidade que, em seus estertores (ou pós-modernidade como queiram) tirou-lhe a garantia de vida, mas também alçou-o à condição de celebridade.
‘‘Paradoxalmente, a grande experiência desses tempos foi a redescoberta do afeto, seja de parentes e amigos, seja dos tantos desconhecidos que, ao redor do mundo, expressaram sua solidariedade’’, desabafou o escritor numa entrevista na época ao jornal Estado de São Paulo. ‘‘É dessa afeição que mais me recordo nestes 10 anos, o que aliás, me levou a escrever uma história de amor’’. E é de fato uma inquietante história de amor que Rushdie nos conta em ‘‘O Chão Que Ela Pisa’’; uma revisita ao mito de Orfeu e Eurídice dentro do cenário atribulado da modernidade - o próprio chão a que o escritor se refere no título.
No livro, a história do poeta/músico que se perde de amor por uma musa avassaladora até ambos serem definitivamente unidos pela morte vira uma salada em que mitos clássicos e ícones contemporâneos são misturados sob o tempero da música pop, do cinema, da literatura e da história recente. Ormus Cama, o Orfeu de Salman Rushdie, é o filho rejeitado de uma tradicional família indiana, nascido numa Bombain às portas da independência e despudoradamente anglófila. Por força de sua sina, Ormus transforma-se no maior astro pop da história da música: algo entre Elvis Presley, John Lennon, Jim Morrison e Bob Dylan. Eurídice, por sua vez, é Vina Apsara, um misto de Janis Joplin, Billie Holliday, Patti Smith e Madonna, que transformou-se em musa inspiradora de movimentos feministas e objeto do desejo masculino.
A vida do casal é contada por Mr. Umeed Merchant, apelidado de Rai, fotográfo camarada de Vina desde os velhos dias de Bombain. É pelos olhos e pela lente de Rai que Salman vai retrabalhando o mito a seu bel prazer construindo a moldura para o que tinha a dizer. Mas o que é que Rushdie, afinal, tinha a dizer com essa formulação esquemática de seus personagens? O que há de interessante nessa narrativa repleta de citações, pastiches, paródias e auto-referências? Para o jornalista e crítico Daniel Piza, o livro é uma ‘‘história pós-moderna de uma amor hesitante entre o oriente e o ocidente, repleta de alusões, digressões e efeitos literários diversos’’. Uma narrativa em que Rushdie retoma o humor de seus contos e pinta uma sociedade ‘‘em que os deuses estão no olimpo e não amolam os homens e as mulheres, não decretam fatwas iradas sobre suas existências’’.
Nas palavras do próprio Rushdie, o livro foi encarado assim. ‘‘Fui popular além dos meus sonhos e o resto, em verdade, é o pesadelo. Eu discuto a questão da celebridade em meu novo livro, mostrando como há dois tipos de isolamento: o decorrente daqueles que preferem viver em seu microcosmo (John Lennon no edifício Dakota), e dos que, como eu, não têm escolha diante da intolerância. Sempre vivemos em tempos instáveis, mas a instabilidade hoje é execrável, pois revela apenas a mediocridade de pessoas que crêem na superioridade de sua visão de como as coisas devem ser’’.
De fato, boa parte do livro foi escrita com o autor em profundo estado de depressão e pânico, sem a certeza de sua conclusão. O que só acentuaria o lado pitoresco da obra de Rushdie caso ele não tivesse descoberto nesse meio tempo o tema do amor e do afeto, sentimentos com os quais foi recebido pelo Ocidente. Assim, colocando sua própria celebridade na bandeja, Salman escreveu mais do que uma obra falando do culto da personalidade dos rock stars (que em certa medida preenche o vácuo da morte de Deus). Em ‘‘O Chão Que Ela Pisa’’, o escritor retalhou a modernidade falando de pessoas que aparecem descentrados, em instabilidade e sem raízes; e onde o amor é a única redenção para a dificuldade ocidental com a alteridade, o reconhecimento do outro.
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