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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Depois dos megashows do U2 no Brasil em 1998, uma megaconfusão nos bastidores

Um mês após o U2 deixar o Brasil depois de 3 shows espetaculares pela turnê Popmart, outro espetáculo continuou nos bastidores, como um show fechado sem platéia. A confusão incluiu acusações de calotes, sonegação, desvio de dinheiro e até ameaças de morte.
O Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) entrou na Justiça para receber o pagamento de direitos autorais. Pediu R$ 650 mil, menos do que os 10% de bilheteria a que teria direito. Parte estava depositada em juízo.
O empresário Franco Bruni, promotor do evento, entrou na Justiça contra a C&A, uma das patrocinadoras do show e responsável pela venda de ingressos, porque não concordou com a prestação de contas feita pela empresa. Ele diz que ainda tinha entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões a receber.
A C&A entrou na Justiça contra Bruni. A empresa acusou o empresário de, sem autorização, ter retirado os ingressos de suas lojas para alterar preços e localizações por causa da mudança do local do concerto no Rio (era no Maracanã e passou para o Autódromo).
Segundo a empresa, 20 mil ingressos não foram devolvidos. "Talvez isso justifique a notícia que os próprios seguranças estavam vendendo ingressos como cambistas, com talões de ingressos nas mãos que eram oferecidos na porta do autódromo no dia do show no Rio", disse o advogado da C&A.
Vários seguranças que vestiam a camiseta com inscrição "controle" portavam talões de ingressos em Jacarepaguá. Eles os ofereciam a fãs que chegavam atrasados e sem entrada.
Quase todos os ingressos eram de arquibancada e tinham preço oficial de R$ 20. Na revenda, o preço original era mantido, mas o segurança informava que o ingresso estava valendo para o gramado e que a entrada seria facilitada.
A venda paralela de ingressos tinha a participação de, pelo menos, 30 seguranças. Fora do autódromo, eles conversavam com fãs interessados em comprar ingressos e os encaminhavam ao portão, onde outro grupo cuidava da venda.
Um homem com um rádio parecia comandar a revenda.
O produtor italiano da turnê, Fran Tomasi, classificou os fatos como "graves": "Talvez os seguranças que estavam vendendo ingressos tenham recebido convites que não utilizaram", afirmou. Quando à facilitação para a mudança de setor, onde o pessoal que estava nas arquibancadas pagava um pequeno valor para poder passar para a pista em uma fresta num tapume de espuma que fazia a separação dos locais, Fran disse que "isso é muito errado".

Bruni diz que devolveu tudo que havia pego. A C&A contou, recontou e verificou os canhotos um a um. Pela última contagem fechada pela C&A, foram arrecadados R$ 7.090.025. E 6.000 ingressos não foram vendidos em São Paulo, o que causa estranheza, já que o segundo show em São Paulo estava abarrotada de gente, com quase 120 mil pessoas ocupando todos os locais. No Rio, ninguém sabe qual foi o encalhe.
A FB Promoções, Produções e Marketing, uma das duas empresas usadas por Bruni no evento (a outra é o Instituto Franco Bruni)- diz que entregou ingressos no valor de R$ 9,265 milhões. Bruni e a C&A discutiram sobre a diferença entre os dois valores. Nas duas contas não entrou o R$ 1,1 milhão referente a venda de cadeiras cativas do Morumbi.
Alheios a isso, os fornecedores ainda esperavam o pagamento por seus serviços. O produtor do show, César Castanho, estima que a dívida tenha chegado a R$ 200 mil. A C&A lavou as mãos. "Nós somos como a Petrobrás na camisa do Flamengo", afirmou o diretor da empresa.
E ainda faltava pagar o ISS (Imposto Sobre Serviço) aos municípios.
Mas as confusões começaram antes e continuaram depois do show do Rio, no dia 28 de janeiro. A primeira irregularidade que mereceu atenção foi a existência de pelo menos dois contratos diferentes. O que foi firmado com a banda, com quatro sub-contratos, não foi o que chegou ao Brasil, que tinha apenas dois sub-contratos (relativos aos cachês para banda e técnicos).
Não se sabe o destino das cláusulas que tratavam dos custos do aluguel da estrutura do show e do lucro da TNA e CPI (que negociaram os shows da banda).
Os dois contratos também diferiam pelo número de páginas. De quase 50 para 17.
"Se existe algum outro contrato, isso não está dentro das normas da legislação", afirmou o coordenador do departamento de Migração.
É bem verdade que não havia indícios de subfaturamento no contrato. O cachê de quase R$ 1 milhão por show para os quatro membros do U2 foi o maior já pago no Brasil até aquele momento. Oficialmente, pelo menos.
A Folha de São Paulo teve acesso aos documentos de remessa de dinheiro para o exterior, com registro no Banco Central e pagamento de Imposto de Renda na fonte. Fato, aliás, que dificultou a vinda do grupo. A TNA, que tinha escritório em Bahamas, ilha do Caribe conhecida como refúgio de turistas e como paraíso fiscal, não queria que houvesse desconto na fonte.
Em poucas coisas Bruni, C&A e MTV (co-promotora do evento) concordaram. Uma delas é que os empresários da banda não queriam pagar imposto no Brasil. "Você nunca vai encontrar alguém que pagou tanto sindicato ou IR em um show só. Você sabe que qualquer outro faria um contrato diferente", afirmou Bruni.


No showbizz, nem tudo é como parece ser. Parte da imprensa noticiou que a banda queria vir ao Brasil e estava disposta a ganhar menos para isso. Não foi bem assim. O show estava sendo negociado por US$ 5,9 milhões. Por causa da disputa de empresários interessados em trazer o U2, o preço saltou para US$ 8 milhões, mais de 33% de ágio. O total de gastos para trazer o grupo chegou a R$ 10 milhões, segundo o diretor da MTV na época.
Com tanta confusão antes e depois da vinda da banda, não é de se estranhar que o U2 tenha entrado para a história do Rio de Janeiro, menos pelo show realizado e mais por ter protagonizado o maior engarrafamento ocorrido no Rio. Fruto de desorganização condizente com o superlativo megashow. Bono cansou de pedir desculpas e lamentar o ocorrido em entrevistas futuras.
Em São Paulo, enquanto as pessoas viam o U2,o produtor do evento teria sido ameaçado de morte. Ele registrou um boletim de ocorrência, mas se recusou a falar sobre o assunto.
No ano de 2011, Larry Mullen Jr., baterista e representante legal do U2, foi condenado pela Justiça brasileira a pagar R$ 800 mil ao empresário Franco Bruni.
Em novembro de 2000, quando visitou o Rio para divulgar o CD "All That You Can't Leave Behind", Mullen disse ao jornal "O Globo" que o grupo não tinha recebido todo o pagamento pelos shows. "Fomos embora sem receber uma boa parte do cachê", declarou o baterista.
Na mesma ocasião, Bono lamentou que os shows nos Brasil foram "desorganizados".
Três dias depois, o empresário entrou com pedido de processo por danos morais na Justiça de Santa Catarina, onde ele reside, apresentando as notas fiscais correspondentes aos pagamentos efetuados à banda.
O processo foi aberto em 2003 e as audiências se deram entre 2005 e 2010, sem que nenhum representante da banda tivesse tomado parte de nenhuma delas.
Em 2006, quando o U2 retornou ao Brasil durante a turnê "Vertigo", Mullen e Bono receberam citações judiciais após a chegada do avião da banda, em Guarulhos.
Segundo consta nos relatos do processo, o avião teria pedido permissão para decolar quando os integrantes da banda souberam da presença de oficiais de Justiça e agentes da Polícia Federal, mas permaneceu no solo.
Mullen não assinou o documento e escreveu nele "palavras incompreensíveis". Já Bono assinou a citação com seu nome verdadeiro, Paul Hewson.
Em janeiro de 2011 decisão da 3º Vara Cível da Comarca de Balneário Camboriú (SC), determinou que Mullen pague R$ 800 mil de indenização a Franco Bruni. Na sentença, as declarações do músico foram consideradas "desabonadoras e desprovidas de veracidade".

15 anos de U2 no Brasil com a Popmart Tour: "Seu país é lindo, seu povo é lindo, suas vozes são lindas"

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte Final

Um Bono combalido, com todo o jeito de estar amargando uma infecção na garganta, que o fez "economizar" a voz nas últimas músicas dos três shows que o U2 fez no Brasil na turnê Popmart.
Mas um Bono plenamente satisfeito com a emocionada resposta do público brasileiro a qualquer canção que a banda entoou durante a passagem da turnê PopMart pelo país.
Esse era o retrato do músico irlandês às 2h30 da madrugada de sábado para domingo, perto de três horas após a última apresentação no Brasil, no Estádio do Morumbi.
Brincando, o vocalista chegou simulando uma dor na perna sob uma passarela que ligava o palco aos camarins. Ofegante, visivelmente comovido com o show que acabava de apresentar em São Paulo e sem olhar um minuto para a câmera (numa postura antiestrela, ele olha direto nos olhos do entrevistador), Bono falou em entrevista à MTV Brasil:
"Não sei te dizer facilmente como me sinto em relação a esta última semana. Tem sido uma semana especial, que dificilmente vou esquecer. Sinto honestamente (a voz some e ele pigarreia), posso me contradizer no futuro, mas este é o show do fim do milênio. Estava maravilhoso lá em cima."
Entre uma tossida e outra (novamente a garganta), o cantor afirmou que no final da milionária e megalômana turnê PopMart tinha a intenção de devolver o U2 ao trabalho de uma banda "mortal".
"Quero voltar ao meu país, fazer novas canções, ver a minha família, meus amigos. Temos de fazer um novo álbum, tocando de forma simples, e tocar em lugares menores", falou. E, ao ser questionado se isso significava que a banda não voltaria mais ao Brasil para tocar em estádios, Bono soltou: "Não. Quero começar a próxima turnê no Brasil. E, na próxima vez, no Rio de Janeiro, nós vamos tocar no Maracanã, apesar de este estádio (o Morumbi) ser muito bom".
O líder do U2 só se mostrou insatisfeito ainda em relação ao polêmico show do Rio, que reuniu problemas sérios de trânsito e de segurança.

"Mais uma vez quero pedir desculpas para as milhares de pessoas que enfrentaram congestionamentos no Rio", falou.
Em outra entrevista para a MTV, o baixista Adam Clayton ficou impressionado com o público brasileiro, e disse que todo mundo cantando junto a canção I Still Haven't Found What I'm Looking For foi comovente, já que ele considera o inglês uma lingua muito difícil, e por não ser um dos idiomas principais no Brasil, ele se surpreendeu do público saber cantar linha por linha tão corretamente.
Em 2000, quando o U2 lançou o album All That You Can't Leave Behind; Bono revelou em uma entrevista que o disco representava o retorno do U2 à suas origens, e que a motivação para realizar um disco assim veio depois do segundo show realizado em São Paulo. Segundo ele, ali ele sentiu que o U2 estava mais vivo do que nunca e que a banda ainda empolgava as platéias presentes. Então o U2 resolveu escrever novas músicas, idealizar novos sons e realizar uma nova tour.

31 de janeiro de 1998, Popmart Tour em São Paulo: "Não esqueceremos vocês"

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 13

31 de janeiro de 1998, Estádio do Morumbi. A terceira apresentação do U2 com a turnê Popmart no país, a segunda na cidade de São Paulo.
Mais 5 mil ingressos foram colocados à venda para o show de sábado, somente nas bilheterias do estádio. A banda viajaria na manhã de domingo para Buenos Aires (Argentina), onde faria a próxima apresentação na América Do Sul.
Sem grandes transtornos em relação ao trânsito e à segurança, cerca de 75 mil pessoas assistiram à primeira apresentação em São Paulo, na noite de sexta, dia 30.
Após a apresentação, os integrantes da banda foram para o hotel Renaissance, no Jardim Paulista (zona sudoeste da cidade). Depois, The Edge, Larry Mullen e Adam Clayton saíram pela porta dos fundos do hotel em direção ao restaurante O Leopoldo, no Morumbi (zona sudoeste).
No sábado, São Paulo ardia mais uma vez. O público não demostrou, novamente, cansaço. Às 18h00 o estádio já estava completamente tomado, já ultrapassando aquelas 75 mil pessoas de sexta feira. Gabriel mais uma vez abriu o show. O público se mostrou mais receptivo e ele conseguiu levantar todos com Cachimbo da Paz. A apresentação do rapper foi exatamente igual a do outro dia. Mecânico até nas palavras dirigidas ao público. Se ele levasse em conta o subtítulo - pensador - teria feito coisa melhor. Quem se deu bem nas mudanças foi o Bootnafat, que, de cara, conquistou o público com Que País É Este?. O grupo se animou e tocou duas músicas próprias e mais dois covers. O que não consegue-se compreender é porque não optaram por uma banda de verdade, pelo menos poderíamos ouvir os originais. Se Eu Quero Ver o Oco levantou o público, poderíamos ter tido uma palhinha dos próprios Raimundos, que até jogaram bola com os técnicos e equipe de montagem do palco do U2.
O disputado Paul McGuinness, empresário do U2, fez a maior social no camarote da MTV. Chegou todo simpático, distribuindo sorrisos, e tirou até foto empurrando os carrinhos de supermercado que abrigavam as merendeiras com sanduíches e bombons.
21h30 em ponto e vamos para o U2 na sua última noite no Brasil. O show estava sendo televisionado pela patrocinadora do show, a MTV brasileira, para todo o país.
Aliás, quem assistiu à transmissão da MTV, viu outro show. Pela TV, o público não consegue acompanhar as dimensões da PopMart, mas ganha detalhes que quem esteve no estádio era impossível ver. Quando Bono pediu, em português, para que o Brasil ganhasse a Copa do Mundo, na sequência ele chamou o guitarrista The Edge e traduziu cada palavra.
Por contrato, a MTV teve direito à exibir só uma reprise do show, que ocorreu dias depois, onde editaram algumas partes, colocaram legendas nas falas e retiraram as aparições da VJ Soninha. Ela trabalhou muito bem na cobertura. Preparada, fluente, falando português de diplomata. E confessou ao final que foi o melhor show de estádio que ela já viu na vida.
A reação da produção do U2 ao trabalho da emissora foi tão boa, que chegaram a negociar para a MTV poder fazer mais exibições.
A Rádio Transamérica estava transmitindo o show ao vivo também.
A segunda noite não foi muito diferente da primeira em termos de show. Tirando o cansaço da apresentação anterior, o público correspondeu do mesmo jeito, iluminando o estádio com isqueiros, cantando todas a músicas e saudando o grupo de todas as formas. A diferença agora é que o estádio estava completamente tomado por fãs do U2, e ultrapassou 100000 pessoas presentes.
Mas quem conhece o U2 sabe que nenhum show é igual ao outro. Bono continuou com os agradecimentos - inclusive àqueles que pagaram um preço alto para entrar. Ao contrário da noite anterior, o grupo não cantou Bad, porém mandou All I Want Is You. Logo depois veio o ponto alto do show. Um pouco antes de tocar Staring At The Sun, o vocalista, em perfeito português, falou: "Posso pedir um favor a vocês? Ganhem a Copa do Mundo para a Irlanda", delírio total no estádio, que ainda ouviu Bono dedicar a música para Romário - aniversariante do dia: "Esta música é para Romário. Feliz aniversário. Obrigado, cara".
Toda a concepção da turnê PopMart do U2 joga com uma ambiguidade em relação à cultura pop. Nas imagens do telão, o público pode ver o desenho animado dos movimentos mecânicos de uma mulher fazendo compras no supermercado ou a clássica progressão evolucionista do macaco ao homem, terminando dessa vez com a figura de um sujeito empurrando um carrinho de supermercado, o que deixa entrever um tom crítico.
Mas há também um lado de exaltação dessa cultura (que o próprio show representa), com seus maiores ícones ou uma emocionante comunhão dos tradicionais bonequinhos de Keith Haring dançando ao som de One.
No palco também uma campanha pela Anistia Internacional, no telão uma homenagem a Martin Luther King, e lágrimas pelos mortos da Irlanda no Domingo Sangrento.
No sábado, Alessandra Germano, 15 anos, foi içada por Bono durante If You Wear That Velvet Dress.
"O Bono apontou para mim. Me colocaram no palco, e comecei a dançar", diz Adriana. "Não sou de dançar, não sabia direito o que fazia."
"Ele não me disse nada, mas me deu muitos beijos, e dois foram selinhos. Também me pediu o crucifixo de prata que eu usava. Eu dizia que o amava", conta Alessandra, que veio de Brasília e chegou ao Morumbi à 1h de sábado.

Clique AQUI para um review completo deste inesquecível show do dia 31 de janeiro!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Turnê Popmart no Brasil, 1998: pelo U2, até o fim do mundo

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 12

Já ouviu alguém dizer que pela banda do coração, iria até o fim do mundo ou até o inferno, se fosse preciso? Foi um inferno composto por: calor insuportável, filas, espera, preços altos, trânsito, comida gordurosa e horas arriscando a vida em rodovias. Foi mais ou menos isso que milhares de fãs de todo o Brasil suportaram para assistir aos shows do U2 na Popmart Tour em São Paulo, nos dias 30 e 31 de janeiro de 1998. Uma verdadeira maratona de sacrifícios, compensada pelo espetáculo visual e musical apresentado pelo grupo irlandês.
Os vendedores haviam transformado a Avenida Morumbi num camelódromo, repleta de carros transformados em lanchonetes e barraquinhas que vendiam desde cachorro-quente a estranhas misturas de uísque com côco. Claro que não podiam faltar os vendedores de camisetas, fitinhas, bandanas, fotos e outras coisas estranhas ou colecionáveis, tudo com a marca U2, mas, nesse caso, o melhor era ir aos estandes oficiais da turnê, onde um boné oficial não saiu por menos de R$ 20,00. Era o mercado pop dos irlandeses funcionando a todo vapor.
Do lado de fora do estádio, na parte da manhã as filas ainda eram tímidas, mas muita gente já estava ali desde a noite anterior. Munidos de cadeiras de praia, cobertores e mochilas, as pessoas lendo, jogando cartas, namorando ou simplesmente batendo papo para passar o tempo, indiferentes ao trânsito caótico da capital paulista. O primeiro desafio de quem chegava cedo era encontrar a fila certa e, depois, rezar para que o tempo não girasse tão devagar.
O sol da tarde veio como uma "lua" de rachar asfalto. A temperatura aumentava à mesma medida da expectativa, amplificada pelos acordes que saiam de dentro do Morumbi. Seria o U2 passando o som? Não, apenas os técnicos da banda. A sorte foi que a organização decidiu adiantar em quase duas horas a abertura das catracas, permitindo que o público conhecesse mais cedo parte da grandiosidade dos cenários da PopMart. Todo mundo que entrava, afirmava: a coisa toda era mais grandiosa do que esperavam!

E quem disse que foi um alívio? O sol torrava as cabeças da galera - e mandava muita gente para o posto médico instalado no estádio -, enquanto um mísero copinho de água era vendido a estorquivos R$ 2,00, e um cheeseburger com gosto de borracha e pingando óleo custava R$ 3,00, mais caro que um X-Salada completo. Os ponteiros do relógio pareciam emperrados. Para piorar, nuvens negras no céu assinalavam a proximidade de um temporal que, se por um lado daria um tempo no calor, por outro podia esfriar os ânimos do show.
Bastaram 20 minutos de Bootnafat para fazer a paciência do pessoal chegar no limite. A banda, vencedora de uma edição do Skol Rock, era tão ruim que a atração seguinte, Gabriel O Pensador, foi um presente dos céus, o que não significou exatamente empolgação. Mas bastou Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. pisarem no palco para que todos esses percalços fossem esquecidos. A banda fez um show impecável, tocou a maioria de seus sucessos e ainda presenteou os fãs com um espetáculo visualmente inesquecível.
Apesar do cansaço, do sofrimento e tudo mais, todos os fãs foram categóricos: valeu a pena, e fariam tudo de novo!


O pós-show da primeira noite em São Paulo da Popmart Tour em 1998

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 11

Após o show de sexta feira, 30 de janeiro de 1998, Bono foi o único integrante da banda que dispensou a noitada de São Paulo. Por causa de problemas na voz que o acompanharam em toda a turnê, ele preferiu ficar no hotel descansando e se poupando para a terceira e última noite de shows da Popmart No Brasil.
Edge, Larry e Adam então, por volta das 4 da manhã, chegaram ao O Leopoldo, no Morumbi, Zona Sul, onde tinham uma mesa reservada em que também estava o então Ministro Extraordinário dos Esportes, Pelé.
The Edge era o mais animado. Com seu chapéu de caubói, dançou a noite toda (até axé music), cercado por amigas que o acompanhavam.
Por coincidência (e bom gosto), quando começou a tocar no local uma canção do grupo É O Tchan, Edge preferiu se sentar e ficar quieto.
Adam Clayton, abordado por um repórter da Folha de São Paulo no banheiro do local, disse que adorou a performance em São Paulo. Larry, demonstrando um insuportável mau humor e irritação (novidade né?), disse que a banda não deveria apresentar nenhuma surpresa para o show de sábado.
Adam Clayton terminou a noite na festa montada para o U2 no clube B.A.S.E., às 5 e meia da manhã. Porém, ficou apenas 15 minutos, sem sair do camarote montado no segundo andar da casa, onde o público pagante não tinha acesso.

Turnê Popmart no Brasil completa 15 anos: "A turnê ZooTV era sobre tecnologia. PopMart é tecnologia"

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 10

"A turnê ZooTV era sobre tecnologia. PopMart é tecnologia", disse em 1998 a americana Monica Caston, diretora responsável pelas imagens do telão que serviu de cenário para os shows do U2 no Brasil.
Desde 1984 na área, Caston começou sua carreira como produtora e cinegrafista. "Entrei na turnê Zoo TV como assistente de direção. Um ano depois, passei a ser diretora", conta.
Caston, que também dirigiu os telões de shows de Prince, David Bowie e Rolling Stones, disse que nunca enfrentou problemas com as inovações técnicas do U2.
"Eles opinam bastante e sempre pensam em coisas novas. Explico o que é possível fazer e eles me entendem sem reclamar", disse ela.
Para ela, desde a estréia da turnê Popmart, em abril de 97, em Las Vegas, os shows mudaram muito.
"Experimentamos novos ângulos de câmera, os operadores se familiarizaram com a movimentação de palco e a banda alterou o repertório em cada fase nova. Sem mudanças, perderia a graça", disse.
Além de saber cada passo que o grupo dava no palco, Caston tinha de operar a mesa de corte de imagens que estava integrada a um programa de computador desenvolvido especialmente para a PopMart.
É graças a esse programa que muitas das imagens ganham um tratamento especial. "Quando se tem a maior televisão do mundo, dá para fazer quase tudo", disse ela.
Caston não concordou com as críticas que acusaram o grupo de exibicionista por usar um telão enorme para mostrar a si próprios.
"Eles fazem isso porque gostam da tecnologia. Além disso, é bom para a platéia. Quanto mais longe você estiver do palco, melhor."
Mesmo um equipamento tão sofisticado quanto o da PopMart pode apresentar problemas, como o que aconteceu na primeira apresentação em São Paulo, em 30 de janeiro de 1998.
"Uma das seis câmeras do show quebrou e tive de adaptar o esquema para cinco. Como isso já estava previsto, tenho certeza de que ninguém percebeu".

A MTV, uma das patrocinadoras dos shows no Brasil da Popmart, durante 60 dias, antes das apresentações do U2, montou programações fantásticas, com inúmeros especiais sobre a banda, videoclipes (alguns muito raros, nunca mais exibidos depois), matérias, informações, entrevistas. U2 de dia, de noite, de madrugada. Causou uma overdose diária nos fãs do U2. A MTV chegou a transmitir ao vivo imagens das primeiras canções tocadas no show do Rio de Janeiro.
A TV Bandeirantes também na mesma época apresentou o especial U2 A Year In POP.
A Rede Gazeta apresentou o show U2 Under A Blood Red Sky.
A extinta Rede Manchete apresentou um especial sobre a primeira vinda do grupo ao Brasil:



Leia mais detalhadamente sobre todos os acontecimentos do show do dia 30 de janeiro de 1998, clicando AQUI

São Paulo se rendia ao U2 pela primeira vez, há exatos 15 anos atrás

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 09

Churrasco e boate em Ipanema, ensaio de escola de samba na quadra do Salgueiro e viagem a uma praia de Angra dos Reis marcaram os dias de folga dos integrantes do U2 no Rio de Janeiro antes do primeiro show no Brasil. Entusiasmados com Angra dos Reis (no litoral Sul do Estado) e temerosos com o mau tempo, Bono e The Edge avisaram que passariam a madrugada do dia 25 para o dia 26 na ilha onde estavam. De helicóptero, eles voltaram na segunda para o Rio, onde às 18h30 testaram o som no Autódromo.
Irritado com o assédio de fãs e jornalistas, Adam Clayton ficou no hotel Copacabana Palace (zona sul). A chegada do baterista Larry Mullen ao Rio aconteceu no dia 25, às 23h. O guitarrista The Edge desembarcou às 11h15.
Há dois dias do show no Rio, quase 45% dos ingressos para o espetáculo, cerca de 50 mil do total de 113 mil, ainda não tinham sido vendidos. A situação contrastava com a de São Paulo, onde os bilhetes para os dois shows já haviam acabado, e a produção começava a vender 16 mil novos bilhetes, para as cadeiras especiais do Morumbi, por R$ 60.
A banda se apresentou no dia 27 de janeiro de 1998 no Autódromo Nelson Piquet (Jacarepaguá, zona oeste do Rio).
30 de janeiro de 1998, Estádio do Morumbi, São Paulo. O segundo show da turnê no Brasil, o primeiro na cidade de São Paulo. Os portões do Morumbi só foram abertos às 14h45, 45 minutos depois do anunciado pela Polícia Militar. Os técnicos do U2 permaneceram no palco fazendo o ajuste do som. A banda só chegou do Rio de Janeiro por volta das 18h00, direto para o Morumbi.
Até alguns minutos antes das 14h45, a PM e a produção canadense da turnê não haviam chegado a um acordo sobre o horário de abertura dos portões. A polícia queria liberar a entrada às 14h para evitar tumulto do lado de fora do estádio. Greg Evans, diretor da PopMart internacional, preferia às 16h30 para evitar tumulto dentro do estádio.
O atraso na montagem do palco fez com que ambos estivessem errados, e o público só pisou no gramado às 14h45 e as arquibancadas foram liberadas 15 minutos depois.
A passagem de som foi feita pela equipe da banda. Os quatro integrantes da banda permaneceram dentro dos camarins até o início do show. Só depois da apresentação que se hospedaram no Hotel Renaissance.
Nos 340 m2 da suíte presidencial do Renaissance havia três salas, três banheiros, dois quartos e um terraço com vista para a Avenida Paulista e uma banheira de hidromassagem para seis pessoas. O preço da diária era de R$ 6.000.
As outras suítes de luxo que a banda ocupou possuiam sala, quarto e banheiro com hidromassagem e custaram R$ 485 por dia.
A assessoria de imprensa informou que ainda havia ingressos para os shows de sexta e sábado, nas bilheterias do estádio. Cambistas também vendiam ingressos de pista à R$80,00.
Inesquecíveis mesmo foram as duas noites que ficarão para sempre na memória de quem compareceu ao Estádio do Morumbi na sexta e no sábado, dias 30 e 31 de janeiro de 1998. Os problemas ocorridos no Rio de Janeiro ficaram para trás, o público foi um espetáculo à parte e o U2 fez uma de suas mais antológicas apresentações. Quem teve peito para se mandar para São Paulo não se arrependeu. Quem ficou em casa perdeu um dos maiores - senão o maior - espetáculo que já aportou no Brasil.
Por volta do meio-dia, a massa humana começou a chegar no Morumbi. As filas já estavam enormes por causa dos fanáticos que chegaram a dormir na porta do estádio. O calor era grande, mas nada que impedisse os U2-maníacos de esperar mais de doze horas pelos ídolos.
O gramado ficou tomado logo no início da tarde. Quem quisesse ver o U2 de perto teria que ficar cerca de quatro horas em pé, no aperto e num sol escaldante. Isso, para ver o grupo nas suas sessões de meio de palco, porque a frente era tomada pelos VIPs que pagaram R$ 200,00 para ficar no gargarejo. Às 19h30, com o estádio completamente lotado - cerca de 80 mil pessoas, de acordo com os produtores -, a banda brasiliense Bootnafat subiu ao palco. E começaram apelando: mandaram ver Eu Quero Ver o Oco, dos Raimundos. A música não bastou para conquistar o público. Os vencedores do Skol Rock - patrocinadora da etapa brasileira da PopMart - tocaram mais duas músicas, entre elas, um cover do Rage Against The Machine - banda que estava cotada para abrir os shows. O Bootnafat estava totalmente deslocado sem o público metaleiro para ajudá-los.
A agonia persistiu com a entrada de Gabriel, O Pensador. O rapper de boutique começou a apresentação às 20h00 e por cinqüenta minutos o público teve que suportar hits do quilate de Lôraburra e Cachimbo da Paz. Gabriel estava passando a impressão de insegurança no palco, sempre agradecendo ao U2, como se estivesse com medo das vaias, que foram poucas, apesar da fraqueza do show.
Com uma pontualidade britânica, às 21h30, começaram as primeiras batidas da música tema de Missão Impossível, atualizada por Adam Clayton e Larry Mullen Jr. O público começou o show que continuaria por toda a noite. O mega-telão mostrou a letra "O" do Pop se transformando numa bola de futebol. Era tudo que precisava. Sob os acordes pré-gravados de PopMuzik, o U2 surge no meio da multidão. Bono, o último a aparecer, sobe ao palco vestido de lutador de boxe e mostra porque é considerado um dos maiores showman do rock'n'roll atual. Ele cumprimenta o público e começa a primeira de uma série de nocautes. Mofo, a música mais techno do U2 transforma o Morumbi num caldeirão. Nenhuma alma viva fica parada. Logo depois, o oposto: I Will Follow, uma das primeiras canções dos irlandeses. É impressionante a resposta do público, cantando toda a música junto com o grupo, que emenda Gone, mais uma do novo disco.
Em Even Better Than The Real Thing começa o diálogo de Bono com a platéia. Ele mostra que as aulas de português valeram para algo, apesar de parecer o Papa falando. "E aí, paulistas? Tudo Bem?", gritou, recebendo uma sonora resposta de 80 mil gargantas, enquanto começava a música. "Esta não é a última noite em São Paulo", mandou Bono, justificando Last Night On Earth. Depois de uma versão mais funkeada de Until The End Of The World, recomeçou a loucura. New Year's Day e Pride (In The Name Of Love) transformaram o Morumbi num imenso karaokê. Bono pareceu se emocionar e dançou quando público aumentou a velocidade das palmas. O público fez a lição de casa. Depois de 17 anos de espera, I Still Haven't Found What I'm Looking For foi cantada de ponta a ponta pelo estádio, chegando, às vezes a superar a voz de Bono, que sorriu e mandou um "God, I Love You".
A grande surpresa da noite veio depois, quando The Edge dedilhou os acordes da tão especial Bad, música que o U2 tocou pela primeira vez na turnê, desde os tempos da ZooTV. O povão foi à loucura. Ela foi ensaida na passagem de som no Rio. 
Na metade do show, Bono e Edge se mandaram para um palco menor, no meio do público. Lá, eles entoaram Staring At The Sun numa versão acústica que precedeu outro grande momento do espetáculo: Sunday Bloody Sunday. A ansiedade pelo hino era grande. Somente o guitarrista cantou acompanhado por todas as vozes possíveis. Foi de arrepiar qualquer ser humano.
Enquanto estavam aqui no Brasil, um fato fundamenta: o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, anunciou que o Domingo Sangrento, o massacre de 14 católicos desarmados por soldados ingleses em Londonderry, seria reinvestigado. Aquele dia era o 26º aniversário do massacre, e Bono agradeceu a Blair. Foi aqui que Bono soube de um grande avanço na pacificação irlandesa.
Luzes todas apagadas e a batida de Bullet The Blue Sky levantou a galera. Somente quatro holofotes apontando para o céu iluminaram o estádio, que vê o desenhos de Roy Lichtenstein e Bono fazendo suas costumeiras críticas aos Estados Unidos. Ele caminha com um boné na mão - como se estivesse pedindo esmolas- e falando: "Brasil, Don't run into the arms of America" ("Brasil, não corra para os braços da América"). É inegável o carisma que o vocalista tem junto ao público. Bono, em nenhuma hora, perdeu o controle sob a platéia. Hora de parar um pouco e viajar ao som de Please, que fez um medley com Where The Streets Have No Name. Neste momento tinha-se a impressão de que estádio iria abaixo, tamanha a empolgação.
Parada para o bis. O grupo se despediu sem muita credibilidade. Enquanto tocava uma versão remix de Lemon, o telão mostrava uma dançarina do ventre transex fazendo piruetas. Cinco minutos depois, um forte barulho anunciou que algo maior estava para acontecer. Um limão gigantesco percorreu o palco e quando se abriu, mostrou os quatro inttegrantes do U2. The Edge foi o primeiro a descer - fazendo o sinal da cruz como um jogador de futebol -, seguido de Adam Clayton e Larry Mullen. Bono ficou um pouco no limão, quando cantarolou Discothèque. A música assumiu ares mais rock e, ao contrário do que muitos dizem, funcionou muito bem ao vivo. Depois do agito, a calmaria: If You Wear That Velvet Dress. Como a música é meio desconhecida, foi a hora do público descansar um pouco mais.
With Or Without You começou e Bono foi tirando uma garota da platéia para dançar. 
Enquanto ele cantava no colo da menina, gritos histéricos de fãs com inveja tomavam o gramado. O público levantou a voz outra vez e Bono não parecia acreditar no que ouvia e falou: "It's the time of our life" ("este é o momento de nossas vidas") . Gritaria geral e outra despedida em vão. O grupo voltou para tocar a potente Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me, da trilha do filme Batman Eternamente. A música pareceu significar algo mais para o U2. Uma espécie de paródia, de rompimento, que Bono faz questão de demostrar imitando o personagem criado na última turnê, o demônio MacPhisto. A roupagem mais techno da canção pôs todo mundo para dançar e o grupo mandou outra: Mysterious Ways. Bono, então surpreendeu todo mundo e pegou outra menina do palco, que não se contentou e agarrou o vocalista, quase a ponto de não deixá-lo cantar. Adriana Fontenelle Brito, 14 anos, que veio de Goiânia e chegou ao estádio às 4h, também viu Bono cantar "One".
O show se encerrou com Unchained Melody, seguido de Bono dizendo um "tudo bem" e abaixando para beijar o palco.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Paul McGuinness reclama que Google não faz tudo o que pode contra a pirataria

O empresário do U2 e da PJ Harvey, Paul McGuinness, afirmou hoje que "existe a sensação de que Google não tem feito tudo o que pode" contra a pirataria.
McGuinness acusou ainda o motor de busca da Internet de "fazer dinheiro graças às suas ligações aos conteúdos ilegais", citado pela Efe.
"A Google tem dado muito à civilização em termos de conhecimento, são engenhosos, mas estão fazendo dinheiro redirecionando ao público páginas que contêm pirataria", disse o porta-voz do U2, durante uma participação no Mercado Internacional do Disco e da Edição Digital (MIDEM), em Cannes.
"Gostaria de ver alguma ação da sua parte [da Google]", acrescentou.
O responsável manifestou-se também desconfiado em relação à intervenção dos políticos, que temem tomar medidas por poderem ser "impopulares".
McGuinness reuniu-se hoje com o comissário europeu do Mercado Interno e de Serviços, Michel Barnier, para discutir o que Bruxelas tem debatido em relação aos direitos autorais.
Nos últimos tempos, o motor de busca Google tem sido mote de debate na Europa, pelo fato de este usar conteúdos jornalísticos sem pagar aos seus autores ou editores.
Em Portugal, o presidente do conselho de administração da Impresa, Francisco Pinto Balsemão, tem alertado para este tema.
Na Alemanha, está em preparação uma lei de proteção dos conteúdos da imprensa.

Do site de Portugal: http://sol.sapo.pt

15 anos de Popmart Tour no Brasil: rumo à São Paulo

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 08

Depois do Rio de Janeiro, era a vez de São Paulo ter a sua primeira (e segunda) vez com o U2. O primeiro show da turnê Popmart em São Paulo, aconteceria no Estádio do Morumbi, na sexta-feira, 30 de janeiro de 1998. A previsão inicial de abertura dos portões era para 16:30.
Mas a Polícia Militar antecipou para as 14:00 o horário de abertura dos portões.
O comandante interino do 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar, responsável por segurança em grandes eventos, na época, afirmou que, se fosse necessário, a abertura dos portões poderia ser feita ao meio dia, devido a enorme procura de ingressos para a apresentação, que teria em torno de 100 mil pessoas presentes.
A antecipação não teve relação direta com os tumultos ocorridos no show do U2 no Rio, onde, apesar dos portões terem sido abertos às 14h40, houve tumulto na entrada do público.
A produção da turnê PopMart contratou as empresas Fonseca Segurança e Vigilância (antiga Fonseca's Gang) e Mirante Segurança, que foram responsáveis por 750 homens por dia, sendo 500 deles para a segurança de palco e gramado.
Somando segurança e PM, 1.200 pessoas trabalharam para tentar organizar a passagem da turnê PopMart por São Paulo.
Os ingressos começaram a ser vendidos no dia 26 de dezembro de 1997, e segundo os organizadores, foram colocados à venda, no total, 300 mil ingressos. Foram 100 mil para o Rio e outros 200 mil para os dois shows paulistanos. Um quarto show no país foi descartado inicialmente. Mas no dia 13 de janeiro de 1998, a produção contabilizou a venda de 95% dos ingressos disponibilizados para os dois shows em São Paulo, e esses números fizeram crescer a possibilidade da realização de mais um show no Morumbi. Este show extra poderia ter sido realizado na segunda, 2 de fevereiro. Desta forma, os integrantes do U2 teriam tido um dia de descanso entre as apresentações. Mas infelizmente, esta apresentação extra não foi fechada.
O empresário Franco Bruni chegou também à negociar a realização de um quarto show que poderia acontecer numa capital do Nordeste, provavelmente Salvador (BA), num estádio com capacidade para 70 mil pessoas.
No Rio de Janeiro, a venda não foi totalizada, mas os produtores admitem que os cariocas não tiveram o mesmo interesse que os paulistas.
Os preços de venda, na cidade de São Paulo, foram de R$ 30 para arquibancada, R$ 50 para gramado e cadeira inferior e R$ 60 para cadeira superior.
As lojas C&A do Rio e de São Paulo começaram à vender os ingressos para os três shows no Brasil do U2 um dia após o Natal, e em várias lojas formaram-se filas para a compra dos ingressos. Na loja da rua 24 de Maio, na região central de São Paulo, as pessoas sentaram na calçada esperando a abertura. No shopping Morumbi, a fila chegava a 300 metros pela manhã, período mais movimentado do dia. A maior procura na cidade foi para os ingressos de cadeira superior e inferior.
A C&A não vendia meia-entrada e só aceitava compras em dinheiro. A UNE vendeu em sua sede os ingressos meia-entrada para estudantes, mas somente dia 7 de janeiro de 1998 que abriram as vendas. Foram 70 mil ingressos para estudantes. Na loja C&A de Copacabana (zona sul do Rio), cerca de 50 pessoas formaram fila antes do início da venda dos bilhetes, às 10h.
No dia 29 de dezembro de 1997, restavam poucos ingressos para os shows em São Paulo em janeiro. Em lojas paulistanas só havia ingressos para pista e arquibancada, em quantidade reduzida. Mas somente dia 15 de janeiro de 1998, a assessoria de imprensa divulgou que os ingressos estavam esgotados.
A produção colocou à venda no dia anterior ao primeiro show em São Paulo, mais 13.500 ingressos extras para cada um dos shows na capital. Os ingressos extras foram vendidos no Estádio do Morumbi e nas lojas C&A dos shoppings Ibirapuera, Iguatemi e Morumbi. Isso porque o estádio passava por uma reforma parcial, que terminou apenas no dia 25 de janeiro. Após a nova inspeção do Contru, mais 25 mil lugares do estádio foram liberados e novos ingressos foram colocados a venda. Passaria então de 100 mil pessoas assistindo à cada noite dos shows em São Paulo.
A produção do evento desmentiu a notícia de que havia vendido mais ingressos do que o número liberado para o Morumbi. Todas as quase 120 mil pessoas que compraram ingressos para assistir cada noite das apresentações estavam com sua entrada garantida, garantiu a organização. 
Enquanto isso o Juizado de Menores de São Paulo autorizou crianças, com idade de 9 à 14 anos, a assistirem aos shows do U2 no Morumbi, desde que acompanhados por um maior responsável. Jovens com idade superior a 14 anos foram liberados à ir ao estádio desacompanhados. 
Apesar dessa vitória da produção do evento, que estava insatisfeita com a proibição a menores de 14 anos, outras regras não foram quebradas. A venda de bebidas alcóolicas continuou vetada no Morumbi e os refrigerantes foram fornecidos pelas empresas Brahma e Pepsi. Um dos patrocinadores da turnê PopMart no Brasil foi a cervejaria Skol. 
Também não era permitido, na teoria, entrar no estádio com alimentos e bebidas. Só a imprensa devidamente credenciada poderia portar câmeras e máquinas fotográficas. Na teoria, porque na prática.......
Para os deficientes físicos, houve 200 lugares para cadeiras de rodas e 40 para acompanhantes. Estes espaços especiais só estiveram disponíveis para as arquibancadas e cadeiras superiores e inferiores. A entrada ocorreu pelo portão 17 do Morumbi. 
No início das negociações, foi cogitado trazer para a abertura dos shows uma atração internacional. E como atração nacional, estava prevista a participação do Barão Vermelho (o que seria perfeito).
No dia 11 de janeiro de 1998, a Rádio Transamérica, que transmitiria o áudio ao vivo do segundo show em São Paulo, em 31 de janeiro, transmitiu o áudio do concerto da PopMart na Bósnia, gravado pela rádio britânica BBC no dia 23 de setembro de 1997. O show foi apontado por Bono como um dos momentos mais significativos da turnê, que começou em abril de 97 em Las Vegas (EUA).
Uma preocupação para os shows de São Paulo, eram as chuvas que poderiam ocorrer nas noites da apresentação, já que o forte calor do verão causava grandes pancadas de chuva nos finais de tarde. Segundo a meteorologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgou naquela semana, era grande a possibilidade de ocorrerem pancadas de chuva localizadas, curtas (cerca de 40 minutos) e de média intensidade em São Paulo: "Até a próxima segunda-feira não haverá a entrada de nenhuma frente fria na cidade, o que deve manter a temperatura alta e com a possibilidade de pancadas de chuva". A temperatura média durante as noites dos shows em São Paulo deveriam ficar em torno de 26øC. A máxima seria de 33øC e a mínima de 20øC, segundo previsões do Inpe.

Especial 15 anos de Popmart no Brasil: aterrisando no Aeroporto do Galeão

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 07

A data da chegada do U2 em solo brasileiro era um segredo mantido à sete chaves, mas a previsão que os fãs tinham era de que o avião da banda, um Boeing 737, aterrissasse no Rio de Janeiro no final do dia 22 de janeiro ou na manhã do dia 23 de janeiro de 1998. Os fãs então foram de madrugada para o aeroporto.
Foi na manhã de 24 de janeiro que Bono desembarcou no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Bono chegou com a ideia de conhecer uma população mais pobre e carente, e também uma escola de samba.

O U2 ainda pediu para conhecer alguns museus da cidade e pontos turísticos, como o Corcovado e o Pão de Açúcar. E depois, queriam conhecer o local do show no Rio e fazer uma passagem de som, pois já não tocavam juntos fazia um tempo.
O produtor Franco Bruni disse que o grupo pretendia conhecer outras cidades brasileiras, além de Rio e São Paulo. Para isso, a produção colocou à disposição da banda um Fokker-100 e um helicóptero. O roteiro deste passeio não foi divulgado, mas visitar o litoral baiano era um antigo desejo de Bono e Adam.
Isto não aconteceu em 1998, mas no ano de 2006 os dois integrantes do U2 finalmente realizaram este desejo, e estiveram na Bahia. Adam Clayton até os dias de hoje ainda viaja em segredo, até o local.
Um forte esquema de segurança, que incluiu cerca de 300 policiais militares, bombeiros e até integrantes das Forças Armadas à paisana, foi montado pelos organizadores dos shows para dar cobertura ao grupo, aos produtores e ao público. Homens armados protegiam o produtor Franco Bruni e os músicos, que também tinham proteção de seguranças estrangeiros.
Cerca de duas horas antes da chegada dos músicos à churrascaria Porcão, no dia 25 de janeiro de 1998, alguns integrantes do seu grupo de proteção estiveram no local, para avaliar as condições de segurança. Também a quadra da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro foi examinada antes que a visita de Bono fosse aprovada.
Na noite do dia 25 de janeiro, Bono e Adam Clayton, antes de sairem do hotel Copacabana Palace, disseram que queriam circular de forma independente, segundo a narrativa de Bruni. Mas ele não permitiu que saíssem com cobertura que considerava insuficiente. Dizem que Adam Clayton chegou mal humorado e ficou um pouco irritado com o assédio dos fãs.
O U2 fez o reconhecimento do autódromo Nelson Piquet, em Jacarepaguá, e passou o som no dia 26 de janeiro, às 18:30, quando o sol baixou. Técnicos do show informaram que a montagem do palco foi concluida às 22:00 do dia anterior.
A cantora Daniela Mercury era o nome mais cotado para abrir as apresentações do U2 no Brasil.
Segundo o empresário de Daniela na época, o convite foi feito e ela tinha todo o interesse em fazer os shows. "Só não confirmamos ainda porque fomos pegos de surpresa e Daniela já tinha compromissos assumidos. Se conseguirmos mudar a agenda, faremos os três shows do U2 no Brasil", disse ele.
O empresário dela esperava uma posição oficial. "Daniela ficou muito contente com o convite e tudo indica que vamos fechar com a produção do U2".
Para resolver o impasse, a produção decidiu deixar que o próprio U2 escolhesse a atração. Segundo a assessoria de imprensa do evento, foram enviados à banda materiais dos quatro trabalhos (Gabriel O Pensador, Daniela Mercury, Carlinhos Brown e Novos Baianos). Em princípio, Daniela Mercury continuava na vantagem, já que foi ventilado que Bono conhecia as músicas da cantora baiana.
Sheila Roche e Paul Mcguinness, juntamente com os integrantes da banda, ouviram os materiais enviados para eles. Daniela Mercury, Carlinhos Brown e Novos Baianos foram totalmente descartados, e a escolha do U2 foi por Gabriel O Pensador.
O Ministério da Saúde distribuiu 150 mil preservativos para a platéia do U2 nos show que aconteceram no país.
Segundo a Coordenação de Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids do ministério, a faixa etária dos fãs do grupo (entre 20 e 40 anos) é a que registrava maior número de casos de Aids no país -70,7% dos 116.389 casos registrados até aquele momento.
Além dos preservativos, foram produzidos 15 rola-bolas (balões que circulam pela platéia de mão em mão) com a mensagem "use preservativo".

Promovendo a Popmart Tour no Brasil em 1998: "Certamente preciso de todo o meu humor para assistir ao comercial da Skol"

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 06

A cervejaria Skol foi a primeira à fechar contrato de R$ 2,5 milhões para patrocinar a vinda da turnê PopMart ao Brasil. Para que o evento se concretizasse, tinham que ser vendidos R$ 7,5 milhões em patrocínios.
Segundo o diretor de publicidade da MTV na época, a emissora que tomou a dianteira das negociações de patrocínio, havia contatos avançados com uma empresa de eletroeletrônicos, duas instituições financeiras e uma de cartão de crédito.
"A postura do U2 tem tudo a ver com nossos projetos de incentivar o rock, como o festival Skol Rock", afirmou o executivo da agência de propaganda F-Nazca, responsável pela conta da Skol. "O pacote da MTV é atraente, possibilita uma série de ações promocionais".
O diretor explicou as ações promocionais: "Não temos formato definido ainda, mas teremos promoções do tipo compre X latas de cerveja e concorra a tirar uma foto com a banda no backstage."
Ele disse que o empresário italiano Francesco Tomasi (que levou o U2 a Itália e se associou ao carioca Franco Bruni para trazer a banda ao Brasil) garantiu a concordância do U2: "Segundo ele, a banda está aberta a isso. Poderemos fazer algo como sortear alguém para subir no palco e cantar uma música em português com o U2".
Mas nada disto aconteceu, e a Skol ainda por cima causou uma tremenda dor de cabeça.
Para promover a apresentação, a Skol teve a idéia de gravar um comercial que seria veiculado na MTV como propaganda dos shows no Brasil.
Colocaram uma banda cover do U2 com trajes e visuais parecidos, tocando uma música que lembrava "With Or Without You", sem esclarecer que não se tratava do verdadeiro U2. "Espero que a propaganda esteja sendo encarada como uma sátira", ironizou na época Paul McGuinness, empresário da banda.
"Foi uma atitude muito cínica deles e nós não soubemos de nada".
Por princípio até então, os integrantes do U2 nunca tinham aceitado patrocinadores em suas turnês.
Mas, para tornar possível a vinda da PopMart para a América Latina, tiveram que ceder. "É um princípio difícil de ser mantido em um mundo comercial como o nosso", afirmou o empresário. "Acho que todos se sentem desconfortáveis, mas, sem o patrocínio seria impossível ter vindo."
McGuinnes na época disse que a banda não tinha definido se iria tomar alguma medida judicial contra a Skol ou se continuaria a aceitar patrocinadores. "É uma pergunta difícil de responder", disse. "Certamente preciso de todo o meu humor para assistir ao comercial da Skol."

Franco Bruni contratou o escritório de advocacia Carnide & Associados para prestar assessoria jurídica e tributária. "Eles vão cuidar de todas as taxas e impostos, queremos essa consultoria para garantir que tudo seja feito estritamente dentro da lei. Não é nada mais nem menos que o meu dever", avisou Bruni.
Ele quis afastar assim o receio do mercado devido a denúncias de subfaturamento que envolvem turnês internacionais no Brasil e por Francesco Tomasi ter admitido que enfrentava problemas com o fisco italiano.
Marco Aurélio dos Reis, da Skol, disse que a empresa estava tranquila. "Nosso contato não é com o U2 ou com os promotores, é com a MTV. Nem sei quanto a banda está pedindo. Confiamos na MTV".
Ele disse que acreditava que não havia o risco no caso U2. "Em eventos grandes isso não ocorre. Todos os grandes grupos exigem comprovação de recolhimento de Imposto de Renda. Eles têm que prestar contas ao fisco de seus países".
O empresário italiano Francesco Tomasi, que se associou ao carioca Franco Bruni para trazer a turnê PopMart ao Brasil, estava no país para vistoriar dois estádios (Maracanã e Morumbi) e supervisionar, com a MTV, a negociação de outros patrocínios para sua viabilização.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Popmart no Brasil, 15 anos atrás: "Tudo o que queriamos era tocar no Maracanã"

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 05

Em agosto de 1997, Franco Bruni, piloto da empreitada para trazer o U2 pela primeira vez ao Brasil (e a quem todos os fãs do U2 deveriam ser eternamente gratos), contratou o escritório de advocacia Carnide & Associados para prestar assessoria jurídica e tributária para a vinda da banda ao país.
O show do U2 no Rio de Janeiro tinha sido anunciado para o Estádio do Maracanã. Mas em 8 de janeiro de 1998, 19 dias antes da apresentação, e com ingressos já vendidos, os organizadores da turnê do U2 no Brasil, Franco Bruni e Fran Tomasi, anunciaram que o show havia sido transferido para o Autódromo Municipal Nelson Piquet, em Jacarepaguá.
Segundo Bruni, o motivo da mudança foi técnico: o túnel de acesso à pista do Maracanã não dava passagem ao guindaste utilizado na montagem do palco.
A Suderj (Superintendência de Desportos do Rio de Janeiro), administradora do estádio, apresentou outra versão. O presidente da Suderj, Raul Raposo, disse que recebeu fax de Bruni pedindo desconto de R$ 40 mil para alugar o estádio.
No fax, segundo Raposo, Bruni justificava o pedido afirmando que as vendas estavam ruins e só 7% dos 120 mil ingressos tinham sido vendidos.
Mas segundo os próprios produtores, haviam sido vendidos 20 mil ingressos até aquela data.
Os produtores já haviam pago à Suderj R$ 125 mil pela reserva do estádio. Segundo Raposo, a quantia seria abatida do total do aluguel do estádio (aproximadamente R$ 280 mil, que seriam pagos em janeiro mesmo). Com a transferência do show, os R$ 125 mil não foram devolvidos aos organizadores.
Na entrevista realizada, os produtores negaram qualquer problema com o aluguel e atribuíram a mudança ao guindaste.
Ainda segundo Franco Bruni na mesma entrevista, seria pouco provável que haveria uma banda de abertura tocando antes das apresentações do U2 no Brasil, o que não aconteceu, claro.
Paul McGuinness ficou irritado com toda a situação e declarou: "O promotor anunciou a mudança de local (do Maracanã para o Autódromo) à imprensa antes de comunicar a banda".
Irritado com as declarações do empresário do U2, o promotor Franco Bruni afirmou que toda a negociação foi feita com a TNA, empresa responsável pela turnê internacional do U2. "Devo satisfações à TNA e não a ele", disse. De acordo com McGuinness, o cancelamento do show no Rio chegou a ser considerado pela banda. "Tudo o que queriamos era tocar no Maracanã", afirmou.
Bruni também disse que a TNA errou no planejamento da distribuição do público e na iluminação dos portões.
"Nessa parte de ingresso, eu não meto a mão. Eu acho que eles erraram. Os técnicos vieram aqui e viram que lugar era melhor. Eles estão nisso", afirmou.
Desde o anúncio da mudança do show para o autódromo, ficou claro o desentendimento entre Bruni e os produtores internacionais.
Bruni disse que não tinha números de bilheteria, porque, desde o início das vendas, a C&A -onde os ingressos eram vendidos- repassou os dados com atraso.
Bruni insistiu que o autódromo era mais adequado para sediar o show que o Maracanã. "Veio quem quis, eu avisei que devolveria o valor do ingresso, não avisei?".
Sobre o fracasso do esquema de trânsito e estacionamento, Bruni disse que as autoridades públicas haviam sido avisadas. "Não tenho culpa de engarrafamento", afirmou o produtor.
Segundo ele, a realização do show numa terça-feira foi uma exigência de adequação à agenda do U2.
Apesar de todos os problemas, Paul Mcguinness declarou: "O show do U2 tem várias surpresas, mas a principal delas é a música".

Há 15 anos atrás, o concorrido primeiro show do U2 no Brasil

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 04

27 de janeiro de 1998, primeiro show do U2 no Brasil, turnê Popmart, Autódromo de Jacarepaguá, Rio de Janeiro: foi um espetáculo visual excepcional, uma apresentação memorável, aparentemente perfeita a não ser por instantes de falha na parte superior direita do telão.
As quase 100 mil pessoas no Autódromo (segundo estimativa dos organizadores) ficaram como que hipnotizadas com a grandiosidade e a opulência tecnológica da turnê PopMart.
Mas a estréia nacional da Popmart não foi só impacto e grandiloquência. Bono mostrou porque é um mestre em dominar platéias.

A imagem de Bono com a camisa justa ao corpo que estilizava a musculatura humana era uma das mais manjadas naquela temporada - tanto que já tinha perdido o impacto quando a turnê chegou no Brasil. Mas ao menos era um look.
Com ele, Bono encarnava sua persona de astro pop e se apresentava para seu público, com um roupão (também estilizado) de boxeador. O conceito provém do estilo da marca W (Wild And Lethal Trash), expert em misturas inusitadas e sempre transgressoras. Bono iniciava o show, portanto, como uma espécie de super-homem, ou supra-homem, explodindo e desafiando, protegido por seus óculos vermelhos. O U2 seguiu rigorosamente o roteiro estabelecido para o concerto, que abriu com "Mofo". Sem paradas, com The Edge exercitando com maestria a arte de passar de uma canção para outra sem romper um acorde, Bono atacou em seguida "I Will Follow". Só parou em "Gone" para falar com o público, que trata com extremo respeito. Desculpou-se com os brasileiros pela demora e disse que esperava há um longo tempo vir ao Brasil.
O grupo fez uma versão compacta de "All I Want Is You" e, em seguida, na versão acústica de "Desire", enquanto acomodavam 30 ritmistas da Acadêmicos do Salgueiro no palco, Bono conclamou: "Junte-se a nós, Salgueiro".
A bateria ensaiou com o U2 apenas uma vez - nos fundos do Autódromo de Jacarepaguá, cerca de três horas antes do show.
Bono tinha ido à quadra da escola dois dias antes, onde tentou tocar tamborim e sambar. Então, no show do Rio, foi a vez de os percussionistas do Salgueiro retribuírem a gentileza.
A primeira troca significativa era a t-shirt vermelha de manga curta, também justa ao corpo, sob um casaco militar, depois amarrado à cintura, usado com a mesma calça preta justa - verdadeiro clássico do rock.
O segmento inaugurado pelo hit "Discothéque" mostrava os integrantes da banda surgindo com as previsíveis camisas da seleção brasileira - com seus nomes nas costas.
Mas aqui Bono trouxe uma boa idéia: vestia também um terno de um material de efeito holográfico, semelhante a bolhas de plástico que refletiam toda a luz do palco.
Depois, assumia o preto e tirava os óculos para descer à Terra e cantar "With Or Without You" no colo da fã. E o milagre do marketing, sob a égide da moda, se fez novamente.

Estilo mesmo ficou com The Edge. Seus coletes e chapéus - em branco ou preto- eram o retrato do cool. Planejado, claro, como tudo ali.

O show terminou com "Wake Up Dead Man" e "Unchained Melody". Bono se desculpou pelos problemas com o trânsito e a banda saiu do autódromo em três helicópteros.
O concorrido primeiro show do U2 no Brasil em toda a sua história, fez com que, a partir das 18 horas (horário do rush), o trânsito no centro do Rio e na zona sul da cidade se transformasse num caos, que durou três horas. Até mesmo os integrantes do grupo acabaram ficando presos em um engarrafamento ao deixarem, à tarde, o hotel Copacabana Palace rumo ao heliponto da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Antes do show, os integrantes fizeram questão de fazer um passeio aéreo pelo Rio, mas, para chegar ao heliponto, tiveram que enfrentar congestionamentos em Ipanema, por causa de um acidente envolvendo quatro carros, na esquina das Ruas Vinícius de Moraes com Joana Angélica. Os roqueiros deixaram o hotel às 17 horas e chegaram em Jacarepaguá pouco depois das 18 horas.
Quem pagou R$ 175,00 por cadeiras especiais no Maracanã, reclamou muito da organização do show do U2, por causa da troca de local do evento para o Autódromo de Jacarepaguá. Os que pagaram por esses ingressos ficaram em frente ao palco, mas distantes dos ídolos e muito próximos das arquibancadas, onde um ingresso custava R$ 30,00.
Quando os integrantes do U2 chegaram ao autódromo, de helicóptero, o rapper Gabriel, O Pensador já começara o show de abertura. A venda de ingressos, em princípio, parecia ter sido menor do que a esperada. À tarde, a juiza Márcia Capanema, da 34ª Vara Cível, concedeu liminar ao Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), responsável pela salvaguarda dos direitos autoriais de músicos e compositores, garantindo à entidade 7% da renda bruta pelo show do U2. 
A produção divulgou que foram vendidos 95 mil ingressos e distribuídos 5.000 convites para o show no Rio, mas não informou a renda.
Oficiais de Justiça foram ao Autódromo. Apreenderam R$ 3.400, porque só 10 mil ingressos foram vendidos no local. Foram às lojas onde funcionavam os pontos-de-venda, mas o valor bloqueado não foi divulgado. Os advogados do Ecad tentaram, com autorização judicial, bloquear a conta em que foi depositado o dinheiro dos ingressos: "Só havia R$ 500. O dinheiro já foi retirado, queremos saber onde ele está. Esse percentual aqui é irrelevante", afirmou Otávio Guzzo.
Fiscais do Ecad então contaram os canhotos dos ingressos depositados nas urnas do autódromo. O objetivo era tentar comparar o número com a bilheteria oficial.

Os seis postos médicos distribuídos pelo autódromo registraram 450 atendimentos até o final do show. De acordo com o clínico, Carlos Mercês, subsecretário Municipal de Saúde, cerca de 90% dos casos foram decorrência do forte calor que fez no Rio - à tarde naquele dia, a temperatura na pista do autódromo chegou a 60 graus. Os casos mais comuns foram de insolação, desidratação e queda de pressão sangüínea.

Piada rápida: Na época, o mestre de bateria da Salgueiro lamentou não ter recebido cachê para participar do show do U2. "Não recebemos nada. Do jeito que o show estava entupido, podiam pagar um cachezinho. Mas não sei o que rolou. Quem combinou tudo foi o irmão do presidente da escola. Não sei o que ele acertou com eles (com os organizadores do evento)."

15 anos de Popmart no Brasil: "Enquanto o Papa faz rock em Cuba, nós viemos fazer rock no Rio de Janeiro"

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 03

Ao contrário da maioria dos astros do rock, que costumam fazer exigências mirabolantes aos hotéis, os integrantes do U2 foram considerados "pessoas simples" pelos funcionários dos hotéis Copacabana Palace, no Rio, e no hotel de São Paulo, onde ficaram hospedados para os shows pela Popmart Tour em 1998.
Os únicos pedidos da banda ao hotel paulista foram água mineral, cestas de frutas, sanduíches, sucos naturais e vinho tinto.
Oficialmente o hotel se recusa a divulgar qualquer informação a respeito da estada do U2. Segundo a gerência, no contrato entre a banda e o hotel há uma cláusula que exige o anonimato do grupo.
A Folha de São Paulo apurou na época que a banda estava registrada com nomes falsos em São Paulo e deveria ocupar a suíte presidencial que fica no 25º andar e mais quatro suítes de luxo "Stanford" no 23º e 24º.
No Rio, onde ocupou os quartos de luxo na cobertura do Copacabana Palace, a banda teria se comportado como hóspedes comuns. "Nós ficamos surpresos com a simplicidade deles, nem parecia que eram famosos", disse um dos gerentes do hotel que não quis se identificar.
Segundo ele, apesar de terem seus próprios cozinheiros, Bono e os outros músicos comeram a comida do restaurante do hotel, sem qualquer restrição.
Os dois primeiros integrantes do U2 à chegar ao Rio, três dias antes da apresentação, foram Bono, que veio de Dublin, e Adam Clayton, procedente de Nova Iorque. Simpático e não aparentando cansaço, o vocalista estava de bom humor, ao contrário de Adam, que ainda por causa das férias, estava bem barbudo e preferiu fugir do contato com os fãs.
Ao chegar ao Copacabana Palace, depois de se hospedar na suíte presidencial, Bono voltou para conversar com os repórteres. "Enquanto o Papa faz rock em Cuba, nós viemos fazer rock no Rio", brincou o cantor. O guitarrista The Edge e o baterista Larry Mullen Jr. só chegaram dois dias antes do show. Churrasco, boate em Ipanema, passagem pelo ensaio da escola de samba Salgueiro e uma viagem para espairecer em Angra dos Reis, onde ficaram até a madrugada anterior ao dia do show, pontuaram os primeiros passeios da banda no Brasil.
A viagem realizou um sonho de infância de Bono. Segundo ele declarou, aos 8 anos de idade, ele e um amigo - Guggi - sonhavam em conhecer o Brasil. Com a Popmart aterrisando no Brasil, Bono aproveitou e trouxe o amigo artista plástico de Dublin, junto com ele.

O bom senso (em partes) prevaleceu na organização dos shows do U2 no Brasil. Gabriel O Pensador foi escolhido para abrir as apresentações da turnê PopMart no Brasil. As primeiras escolhas dos produtores brasileiros eram no mínimo estranhas: Daniela Mercury, Carlinhos Brown ou Novos Baianos. O empresário do grupo, Paul McGuinness, inicialmente, teria topado os nomes, mas foi a própria banda quem optou pelo rapper Gabriel.
O produtor do evento no Brasil, Franco Bruni, responsável pela lista de indicações, resolveu escolher Gabriel O Pensador, depois de assistir a uma apresentação do músico e compositor. "Fiquei impressionado com o que vi, desde as crianças até os mais velhos estavam empolgados. Depois do show não fiz o convite, mas disse duas palavras: te adoro", falou Bruni.
No ano de 1997, o rapper conheceu a produção da PopMart, em Portugal. "Meu produtor me levou para assistir à montagem do palco na véspera de um show deles. Quando entrei, todos os portugueses que estavam trabalhando pararam, sei que isso chegou ao conhecimento da banda".
Gabriel não escondeu a emoção com a escolha. "Como não pude ver a PopMart em Lisboa, fiquei torcendo para que quando viessem ao Brasil estivesse livre para assistir. Jamais poderia imaginar que estaria no palco com eles", disse. Para participar do evento, o músico brasileiro teve que fazer algumas alterações na agenda.
O palco, com 1.192 metros quadrados, é encimado por um arco dourado. Um telão de alta definição, com 816 metros quadrados e 30 toneladas de peso, além de uma passarela de 30 metros para os músicos, completam o cenário de Popmart. Ao todo, são 1.200 toneladas de equipamento, que chegaram ao Rio em 69 containers. Os cabos somam 35 quilômetros e o som tem mais de um milhão de watts de potência.
Bono explicou que era muito difícil viajar com a estrutura montada nas últimas turnês da banda. "Financeiramente é uma loucura. O show do U2 é algo muito grande e arriscado. Nós não queríamos tocar no Brasil com um show de segunda. Estamos trazendo todo o aparato. Estamos trazendo toda a merda", frisou. "Este é o maior show de todos os tempos".

Um forte esquema de segurança - que incluiu cerca de 300 policiais militares, bombeiros e até integrantes das Forças Armadas à paisana - foi montado pelos organizadores da turnê para dar cobertura ao grupo, aos produtores e ao público. Os músicos, no entanto, não dispensaram os seguranças estrangeiros. "Pelo contrato, tenho que garantir segurança de primeiro mundo", disse Bruni, ao comentar sobre a rigidez da segurança na visita de Bono à quadra do Salgueiro.

Para a noite do show, foram contratados 2.500 homens, a maior parte é de civis, que receberam R$ 30,00. Os militares, policiais e bombeiros receberam R$ 100,00.
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