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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Os 25 anos do filme-concerto 'Rattle And Hum' do U2 - Parte 2

Post feito para o site U2 Boots Brasil

O filme se divide em duas partes distintas, espalhadas ao longo de 95 minutos: os shows e as atividades extra-palco. Quatro shows diferentes foram rodados para as seqüências ao vivo - dois em Denver, Colorado, mais dois outros, os últimos de toda a turnê, em Tempe, Arizona. Os dois primeiros foram filmados em preto-e-branco e os dois últimos em cores. Embora na maioria das vezes a banda deixasse de cabelos em pé a equipe comandada por Joanou (70 pessoas ao todo, das quais 12 câmeras), havia momentos, também, em que Phil (apelidado não se sabe nem por que nem por quem do U2 de "E.T.") conseguia "encenar" seqüências coreografadas especificamente de acordo com suas necessidades cinematográficas. A própria seqüência de abertura usada no trailer nos cinemas americanos - é um "teatrinho": um a um, sob os acordes de "Where The Streets Have No Name"; Larry, Adam, The Edge e Bono vão tomando posições no palco. Em certo momento, Bono acena para o "público". Só que o público não estava lá. Talvez este bom comportamento fosse para compensar as armadilhas criadas por Bono para as câmeras. Num dos shows de Tempe, a combinação era a seguinte: a quarta música a ser tocada seria "MLK". No meio da canção, o contra-regra acionaria o mecanismo que faria girar uma cruz gigantesca. Pois no final do terceiro número Bono resolve modificar a seqüência das músicas e, em vez da canção "MLK", empurra a banda para tocar a canção "Out of Control", muito, mas muito mais rápida que "MLK", nada relacionada com a elegia a Martin Luther King contida na canção originalmente planejada para o quarto posto da seqüência, e menos ainda com a cruz gigante - que o contra-regra, alheio à mudança e ao repertório do U2, resolveu girar de qualquer maneira.
Tão interessantes quanto os próprios shows, as cenas fora do palco narram a passagem da banda por um território musical, social e político muito diferente de sua Irlanda natal. E registram as conseqüências desse périplo e do conseqüente fascínio da banda com a cultura americana. No início de 1987, The Edge contava em uma entrevista que, somente nas últimas duas turnês do U2, ele havia conhecido o que chama de a "América oculta", um lado do país "que não fica óbvio em uma cidade". Neste lado oculto ele teria encontrado "música que nunca chega ao rádio, que nunca chega a ser conhecida, de uma maneira ou outra, blues e música country. Encontrei também escritores americanos, gente como Raymond Carver, e vários escritores indígenas". Este fascínio com os Estados Unidos já era evidente no disco 'The Unforgettable Fire' e no término de cada show da turnê The Joshua Tree com uma fita gravada de Jimi Hendrix tocando o hino americano em Woodstock. Mas, aos poucos, este fascínio viu-se transformado em verdadeira escavação cultural em busca de raízes e história. Alguns destes achados estão no filme: passeios pelo Harlem (antes de uma ida à igreja, para cantar com o coral local), gravações no Texas com B.B. King, gravações no lendário Sun Studio, em Memphis, Tennessee (onde já gravaram Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Al Green, Isaac Hayes e Otis Redding), visitas a Graceland (mansão onde morava Elvis), tudo registrado em preto-e-branco.
O que o filme registra também é a gravação de algumas das faixas do que Bono já chamou de "o primeiro álbum de rock’n’roll do U2". Faixas mais cruas do que seria de se esperar do U2, nascidas a partir do momento em que The Edge e Bono começaram a mergulhar nas raízes do blues através de contatos e colaborações com Keith Richards, faixas como "Desire" e "When Love Comes To Town". Ou covers como a de "All Along The Watchtower", canção de Bob Dylan que se transformou num dos bastiões do repertório de Hendrix. As seqüências de show do disco também surpreenderam, conforme esperava Jimmy lovine, porque, ao contrário de um álbum de grandes sucessos gravado ao vivo, o U2 gravou versões diferentes, com novos arranjos, de musicas de seu repertório. "É um disco agressivo", segundo lovine.
Mais de uma vez os integrantes do U2 brincaram com a escala gigantesca de sucesso que alcançaram. Durante a entrega dos prêmios Grammy, por exemplo, Bono suspirou, reclamando que não era fácil ficar promovendo a paz entre as superpotências, zombando da própria aura sobre-humana que alguns enxergavam na banda. Aparentemente mantendo sua cabeça coletiva abaixo das nuvens, o U2 conseguiu cavalgar a fama, o poder e a bajulação reservados aos megastars, sem cairem nas armadilhas conseqüentes.
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