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segunda-feira, 20 de março de 2017

Entrevista com Bono e The Edge para o NPR Music nos 30 anos de 'The Joshua Tree'


Os membros do U2 estão preparando uma nova turnê para tocar algumas músicas antigas — de 30 anos atrás, para ser exato. Paul Hewson e David Evans, conhecidos no mundo como Bono e The Edge, serão os primeiros a dizer que sua banda normalmente não gosta de olhar para trás.
"Edge normalmente, quando temos uma coletânea sendo lançada, tem que lutar para conseguir que eu ouça, porque para mim é um sentimento morto", diz Bono. "Além disso, não gosto muito do som da voz do cantor, especialmente aquele com o cabelo mullet da década de 80".
Os penteados da época do U2 podem ser datados; a música, eles se sentem, não é. 'The Joshua Tree' apareceu nas lojas em 1987 e vendeu mais de 20 milhões de cópias, tornando-se um dos eventos principais da cultura pop da década. Nele, estes músicos irlandeses estavam escrevendo sobre a América do momento: um tempo de mudança social em casa e o clímax da Guerra Fria no exterior.
"Ronald Reagan estava no poder e a Maggie Thatcher na Grã-Bretanha. A greve de mineiros foi um grande problema na Grã-Bretanha, muita agitação", diz The Edge. "Acho que todos percebemos que as coisas tinham meio que completado um círculo — já que o ambiente em que foi escrito este álbum é muito mais parecido com o ambiente político que estamos hoje."

Bono e The Edge conversaram com Steve Inskeep do NPR Music, que pediu para o cantor e guitarrista explicarem o modo que 'The Joshua Tree' foi feito para capturar isso. Leia um pouco sobre esta conversa abaixo.

Steve Inskeep: É verdade que esse álbum em um ponto foi chamado de 'The Two Americas'?

Bono: Sim, foi. Há duas Américas: há a América mítica e a verdadeira América. Nós estávamos obcecados pela América naquele momento. A América é uma espécie de terra prometida para o povo irlandês — e então, uma espécie de terra prometida potencialmente quebrada.
Se a declaração de independência é como o encarte da América, nós somos como irritantes fãs que os políticos seguem para o banheiro e dizem: "Mas aqui diz: 'nós comprometemos nossa sagrada honra.' O que é isso?" E as pessoas sofrem nos falando sobre a América, porque nós amamos muito ela. Muito arrogante, não achamos que somos os donos dela. Achamos que a América é uma ideia que pertence a pessoas que mais necessitam.

Inskeep: Uma canção que realmente fica na minha cabeça de ouvi-la há anos é "Bullet The Blue Sky" O que está acontecendo na música? Há um acontecimento real por trás disso em algum lugar?

Bono: Assim como o Live Aid é uma viagem à Etiópia, para tentar descobrir como a pobreza pode existir em um mundo de fartura... eu fui para El Salvador, tentando entender o conflito lá.

Inkseep: Houve um conflito lá e na Nicarágua também. Foi durante a Guerra Fria, onde os EUA apoiaram as guerras para empurrar de volta contra o que era visto como a ameaça comunista à América Central.

Bono: E eu presenciei algumas coisas em Salvador, que eram realmente indescritíveis. Assistimos a um bombardeio em território apoiado pelos rebeldes, assistindo as formas de ganha pão do povo explodindo e sentindo o chão tremer, mesmo que estávamos a salvo o suficiente por nós mesmos. Foi algo que deixou, como você pode imaginar, uma impressão: ver corpos jogados de carros na estrada, coisas terríveis que estava acontecendo. Observando a política externa se resolver em um pequeno país. Foi de onde veio "Bullet The Blue Sky".

The Edge: É realmente um grande exemplo do U2 trabalhando como uma banda. Eu tinha uma parte de guitarra, e Adam e Larry começaram a tocar ao longo dela — e eles tocaram contra esta parte de guitarra em meio tempo. Lembro de estar bastante frustrado e um pouco irritado com eles: "Por que você está tocando meio tempo?" O engenheiro de som e Bono estavam na sala de controle, dizendo, "Uau, isso foi incrível!" E eu estava como, "não, vocês não entendem — isso está errado.Não era para ser assim." Mas foi uma grande lição para mim: nós rebobinamos, apertamos o play e ouvi esta parte do baixo que Adam tinha tocado em cima e era tão selvagem, tão brilhante, e algo que eu nunca iria colocar nessa parte de guitarra.

Bono: Foi em uma nota diferente!

The Edge: Daí, construímos o resto da música. E como Bono está descrevendo, ele tinha algumas palavras que ele tinha começado a trabalhar com base nestas experiências — e ficou claro que o estado de espírito desta música era adequada à experiência que ele teve.

Inskeep: Eu estou olhando para a letra de "Bullet The Blue Sky", e há um verso falado, que para mim, a sensação é como uma sequência de sonho. Começa: "eu vejo esses aviões de combate", e no final você está numa sala ouvindo um saxofone. Parece que você está se movendo de uma cena para outra. Você sabe o que está acontecendo lá?

Bono: "This guy comes up to me, his face red like a rose on a thorn bush, like all the colors of a royal flush. And he's peeling off those dollar bills, slapping them down — one hundred, two hundred — and I can see those fighter planes."

Na época era Ronald Reagan na minha cabeça, e a razão era que [vi um mural em El Salvador com Reagan nele]. Eu estava em pé nesta igreja: "uau, o que Ronald Reagan está fazendo lá naquela carruagem?" E eles disseram: "é Ronald Reagan como o Faraó, e nós somos os filhos de Israel fugindo." Realmente, a imagem naquela sequência de sonho é o que acontece atrás das portas de carvalho, corredores de mármore, que trabalha o seu caminho para a vida quotidiana das pessoas boas que se apanhadas em um conflito.

Inskeep: Agora que você está revisitando essas músicas, e vão estar tocando elas em turnê, você sente uma vontade de revisar ou reescrever qualquer uma delas?

Bono: Mudo as letras o tempo todo. Não só porque não me lembro das letras originais [risos], mas porque eu sinto que as primeiras letras são esboços muitas vezes. Me orgulho dos pensamentos por trás do material, mas às vezes não é a expressão da linguagem. Então eu mudo o tempo todo.

Inskeep: Estou curioso agora, você é como Ella Fitzgerald na famosa apresentação de "Mack The Knife" onde ela não tem ideia mais como são as palavras da letra, e ela só está inventando coisas?

Bono: É assim que escrevemos canções! Eu faço estas merdas no microfone desde os 17 anos de idade. Às vezes elas se transforma em palavras, às vezes é como pinturas de som. Eu só comecei a ser semi-alfabetizado recentemente. Mas então, há uma tradição antiquíssima, não é: "A-womp bop a-looma, a-womp bam boom". Quer dizer, é só... som é tudo.

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