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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

U2 e 'The Pillow Book': A História


Um assistente do diretor britânico Peter Greenaway:

"Em 1995, houve vários contatos entre Peter e U2 para trabalhar em uma trilha sonora para o filme 'The Pillow Book'.
As primeiras sessões foram ótimas e a banda, especialmente Bono e Edge, ficaram entusiasmados com a cooperação. No entanto, após várias demos finalizadas, o filme teve uma sensação ligeiramente diferente e Peter viu que não seria apropriado usar as canções do U2. A banda seguiu trabalhando nestas demos e depois as utilizou no álbum do Passengers."

The Edge: "Nós estávamos interessados em nos preparar para fazer um álbum do U2 partindo de um projeto mais experimental que nos lançasse em novas áreas e que pudesse nos informar sobre nosso próximo trabalho. Eu fiz isso com um álbum de trilhas sonoras antes do 'The Joshua Tree' e Bono e eu fizemos 'A Clockwork Orange' antes do 'Achtung Baby'. Então falamos com Brian Eno sobre fazermos trilhas sonoras para um filme."

Bono: "Nós víamos o Brian como um grande catalisador, mas nos ocorreu a ideia de que seria ótimo escrever formalmente com ele, do mesmo modo que os Talking Heads e David Bowie. Nós pedimos que Paul encontrasse um projeto de filme com o qual pudéssemos trabalhar. Até certo ponto seria a trilha sonora para 'The Pillow Book', um filme vanguardista de Peter Greenaway gravado no Japão."

The Edge: "O projeto de 'The Pillow Book' não foi para frente e quando estávamos no meio da montagem do álbum ainda não havia filme. Nós estávamos bastante entusiasmados com o que estávamos fazendo, então, naquele ponto, Brian disse: 'O filme é apenas um veículo para nos dar algo em que trabalhar. Então vamos continuar e fazer trilhas sonoras para filmes imaginários'."

Paul McGuinness, o empresário do U2 na época, disse: "Sempre houve um pouco de tensão entre o U2 e Brian Eno porque Brian se considera uma força criativa. Eu penso que ele acha frustrante que dentro dos parâmetros que nós estabelecemos, ele não é um compositor, ele é um dos produtores e vai para o estúdio com tudo o que ele possui, seu talento como músico, seu julgamento e sua voz. E se Brian sopra alguma coisa que termina em um álbum, então é isso que os produtores devem fazer. Para isto eles recebem honorários e uma porcentagem do lucro, eles participam do sucesso do álbum assim como o artista. A questão dos créditos e royalties das composições tem sido debatida durante anos. Nós temos um processo colaborativo na montagem das músicas, isto foi estabelecido desde o início, mas eu não poderia permitir uma situação em que Brian Eno fizesse mais do que um membro do U2. Brian é um gênio, mas a banda também é. Eu acho que é um privilégio e aprendizado trabalhar com o U2 como produtor. Era contra esse contexto que se o U2 decidisse montar um álbum em que Brian fosse um integrante completo, não seria um álbum do U2, seria um projeto a parte."

Depois do U2 ficar duas semanas com Brian Eno em um estúdio de Londres, Peter Greenaway não utilizou nenhuma das canções que surgiram nestas sessões. À partir daí os trabalhos nas faixas continuaram e o resultado foi 'Original Soundtracks 1', o álbum sob o nome Passengers, de trilhas sonoras para filmes reais e imaginários.

Peter Greenaway optou por usar uma canção do U2 que fez parte do corte final do disco mais recente da banda na época, 'Zooropa': a faixa "Daddy's Gonna Pay For Your Crashed Car".
No filme, há um desfile de moda dentro dos primeiros dez minutos e você ouve a canção do U2. No meio do filme, há uma cena em que novamente se ouve um trecho da música.
No filme, em Quioto, uma jovem chamada Nagiko recebe um estranho presente de aniversário de seu pai, um calígrafo célebre, que resolve desenhar uma escrita no rosto da criança. Anos mais tarde, quando Nagiko se torna mulher, a sua vida sexual irá ser marcada por aquele voto. Ela procura incessantemente um amante ideal, alguém que satisfaça um desejo de cumplicidade entre o corpo e a escrita. Depois de alguns fracassos, acaba por encontrar em Hong Kong um tradutor ocidental da língua japonesa (Jerome), que a seduz imediatamente. Mas Jerome mantém uma relação homossexual com um homem muito mais velho, fato que Nagiko não perdoa.
O filme foi baseado em 'Notas De Cabeceira' da escritora medieval japonesa Sei Shōnagon, uma dama que viveu na corte japonesa do século X. Greenaway transpôs a ação do filme para a atualidade, utilizando os motivos estéticos e plásticos que sempre caracterizaram o seu trabalho. Tal como em outros dos seus filmes em que as personagens femininas são as mais fortes, também aqui Nagiko é a personagem que começa passivamente por ser o "papel", acaba por se transformar perversamente na "pluma". Um filme que pode ser lido como uma metáfora de como o poder sensual da escrita e da literatura pode levar ao êxtase físico.
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